Passear no Ibirapuera já é bom, (re)ver fotografia de qualidade é melhor ainda. A SP Arte foi um grande feirão comercial. Esse negócio de vender arte é sempre uma incógnita para mim. É um mercado tão simples e fácil de entender quanto física nuclear quântica. Por este motivo, resolvi abstrair o lado comercial e focar apenas no que era bom, no que eu gostei. Vamos a estes, então.

No Instituto Moreira Salles tinha José Medeiros, Hans Günter Flieg, Thomas Farkas, Maureen Bisilliat, Marcel Gautherot e Carlos Moskovics. Em miúdos, nenhuma grande novidade, mas grandes qualidades. Farkas (e seu fotoclubismo), o modernismo comercial de Günter Flieg e o húngaro Moskovics tem pouco mais que a época em comum. Estas organizações por data, apesar de extremamente comuns, sempre deixam a sensação de uma certa simplificação. Por outro lado, as ampliações eram todas boas, grandes, feitas para vender.

A Baró Cruz levou Alberto Simon, Cláudia Jaguaribe, Michael Wesely e Lina Kim, em uma curadoria que me agrada mais. A Lina Kim, sem dúvida alguma a minha preferida desta galeria, tira fotos de ambientes usados, marcando a presença humana sem mostrá-la diretamente. Eu já conhecia o trabalho de Kim e sempre tenho esta mesma melancolia ao vê-lo.

A galeria Amparo 60 (PE), tinha muitas obras interessantes mas eu fiquei hipnotizada pelo Rodrigo Braga. Ele tem uma preocupação (que compartilho) de que a idéia deve ser uma escolha anterior à técnica, então o resultado final é um discurso absolutamente coerente e sólido. A idéia define a técnica, não o contrário. Braga faz isso com maestria e usa todos os recursos à mão para que o conceito não se perca. Ao mesmo tempo, a sua fotografia é impecável e mostra que, mesmo posterior, a técnica não pode ser esquecida ou desvalorizada. Bravo, Braga!

A Vermelho tinha muita coisa misturada, mas de fotografia me chamou a atenção o Marcelo Cidade, com o suporte da fotografia dialogando com a fotografia, que dialoga com o fruidor, que dialoga com o espaço, que… Enfim, muito bom.

A Fortes Vilaça (SP) tinha muitas obras interessantes e aqui tiro uma licença para comentar o trabalho de Mauro Piva, que não é fotografia e sim aquarela sobre papel. O trabalho dele é um conjunto de homens sem rosto, em pequenos quadros coloridos. As posições são bem-humoradas, quase que um convite ao lazer, ao prazer.

Deixei, de propósito, a Tempo por último. Para quem não sabe, a galeria Tempo (RJ) tem tradição em fotografia e era lá, justamente, que eu esperava encontrar a maior quantidade de obras fotográficas. Dito e feito. A maioria já era velha conhecida, como a Pat Kurs e suas polaroids ou o German Lorca e seus pratos voadores, ou mesmo como a Isabel Löfgren e o Felix Richter, um dos meus fotógrafos prediletos. Até Sebastião Salgado tinha por lá. O que eu sempre gosto na Tempo é a curadoria. É difícil preparar obras para exposição, especialmente dentro de um determinado foco, como venda ou crítica. A Tempo sempre surpreende com o bom gosto e o bom humor de suas organizações. Colocar os pingüins e a Serra Pelada, ambos do Sebastião Salgado, como um espelho um do outro e, ainda por cima, colocá-los vizinhos a Antonio Saggese necessita de um olhar muito bem-humorado.

As fotografias na SP Arte provaram é possível unir qualidade e o cuidado de uma boa curadoria com o comércio e, espero, boas vendas.