Entrar na UFRJ para ver a exposição do fotógrafo José Eduardo Barros, no seminário sobre a barbárie, pode não ser das tarefas mais simples (eu sempre me perco no Fundão) mas sem dúvida alguma vale o esforço.

As fotografias de José Eduardo Barros são impactantes sem cair no óbvio, sem cheirar a Unicef e, ao mesmo tempo, sem precisar fazer um dramalhão mexicano para emocionar. Este é um equilíbrio muito difícil de conseguir, vocês não imaginam o quanto.

Como espectadora, eu gostaria que as fotografias fossem maiores. “Sob o cobertor” fala com muita delicadeza de toda a população marginal, invisível, excluída e coloca sobre ela um olhar doce, colocando em foco o Humano. José Eduardo Barros fala mais do que não é visto em suas composições do que seria possível se trouxesse à mostra o que o cobertor esconde. As fotografias merecem uma exposição maior.

Cada fotógrafo tem a sua linguagem. Sebastião Salgado mostra, com drama. José Eduardo Barros induz, com poesia. É através da poesia (literária ou não) que somos capazes de emocionar. E, apenas através da emoção, conseguiremos reverter este cenário de barbárie em que afundamos.

Se, ao invés da fotografia, José Eduardo Barros optasse por uma carreira em música, tenho certeza de que se uniria a Nelson Cavaquinho: Quero ter olhos para ver / A maldade desaparecer.

O mérito do fotógrafo está mais em sua linguagem do que na técnica. E isto é sempre um elogio: técnicas evoluem, mudam, se adaptam, enquanto uma boa linguagem só é possível com o amadurecimento profissional e muita, mas muita, estrada.