Perceber é assimilar o que chega a nós através de nossos sentidos. Aqui só vou tratar dos estímulos visuais.

Correndo o risco de ser óbvia, para se ver algo é necessário luz. O olho humano interpreta a luz refletida dos objetos para enviar as informações de distância, cor, volume, etc, ao cérebro. Então, não seria leviano da minha parte afirmar que em termos físicos nós funcionamos como máquinas fotográficas. O que nos diferencia dos aparelhos é, justamente, a interpretação destas informações e a emoção gerada a partir dela.

A percepção visual é dependente e ao mesmo tempo influencia o meio e a cultura onde o indivíduo está inserido. Por exemplo, a cor branca tão freqüentemente associada à pureza e leveza no ocidente é tristíssima e negativa no Japão, onde é a cor oficial de luto. Meu filho me explica que o Power Ranger® branco (personagem japonês) é “mau”. Muito se aprende com as crianças.

Portanto, é impossível a criação de um símbolo que não esteja inserido na cultura onde existirá.

Com tudo isso, não é de se estranhar que psicólogos tentem estudar e consequentemente explicar a percepção (não apenas a visual). Para os designers a teoria mais importante é a Gestalt.

Até agora só falei de percepção. Para o designer, a percepção é fundamental para que a comunicação visual exista mas não é, entretanto, a meta final do projeto. É importante pensar na reação do indivíduo àquela percepção. E, especialmente, como classifica, sente e memoriza esta informação. Disso trata a semiótica.

A semiótica é uma técnica de pesquisa que consegue dizer, de um modo bastante exato, como funcionam a comunicação e a significação. A semiologia é parte da lingüística. Não é preciso ser especialista em etimologia para deduzir que semiologia e semiótica estão intimamente ligadas.

Uma mensagem, uma estrutura de signos, não apenas comunica mas também significa algo, representando algo para o indivíduo que conhece aquela estrutura de signos. Por exemplo, apesar de achar belíssimo, o alfabeto árabe nada significa para mim.

Para Charles S. Pierce, a relação de significação envolve três sujeitos: um signo, o seu objeto e o seu interpretante; jamais uma ação entre duplas. Essas três entidades formam a relação triádica de signo que pode ser representada graficamente com base no que conhecemos por “triângulo semiótico de Ogden e Richards”.

Os signos, por sua vez, podem ser analisados sob três aspectos (conhecidos como tricotomias): em relação a si mesmos, em relação ao objeto e em relação ao indivíduo que o percebe.

A área da comunicação por mensagens visuais define o universo do design gráfico. Os elementos visuais constituem a substância básica do que vemos. São a matéria-prima de toda informação visual. A professora Donis A. Dondis é, na minha opinião, a mais clara referência sobre os elementos visuais (ponto, linha, estrutura, volume, superfície, textura, luz e cor) e suas composições. Como são noções que pertencem ao nosso ideário coletivo, não vou perder tempo com elas agora.

O que torna a comunicação visual diferente das demais é que conteúdo e forma não podem ser separados. A composição destes elementos, é então a combinação ordenada dos elementos da comunicação visual (ponto, linha, cor, etc).

Então, bravo leitor, para ser capaz de analisar o trabalho de um designer, você não precisa estudar Gestalt ou semiótica. Basta prestar atenção em unidade, harmonia, simplicidade, proporção, equilíbrio, movimento, destaque, contraste, legibilidade e acessibilidade (não apenas em web, uma logomarca precisa ser compreendida por um daltônico, por exemplo).

Mais especificamente, quando for analisar uma marca, preste atenção – além do que citei acima – em:

– originalidade temática, diferenciação.

– valor simbólico, emocional.

– impregnação formal, recordação.

– qualidade estética

– durabilidade

– expansibilidade (pode ser usada em todas as mídias, por exemplo)

– redutibilidade (se é legível em preto e branco, etc)

– escalonabilidade (diferentes tamanhos e formatos)

– globalização – uma marca hoje não pode mais ser pensada apenas para um país, para uma cultura.

Como você pode ver por este superficial e rápido artigo, um bom design é algo complexo, rico e que depende de um bom profissional. Não ache que o instrumento (um bom computador, por exemplo) é suficiente para produzir algo que preste. Não é o martelo que faz o marceneiro. Todo designer é um artista de circo, fazendo algo muito complexo parecer simples e fácil.

“Um ser humano deveria ser capaz de trocar uma fralda, planejar uma invasão, fatiar um porco, construir um barco, projetar um prédio, escrever um soneto, gerenciar contas, levantar um muro, consertar um osso, confortar os moribundos, receber ordens, dar ordens, cooperar, agir sozinho, resolver equações, analisar um novo problema, preparar adubo, programar um computador, cozinhar uma refeição saborosa, lutar com eficiência, morrer com estilo. Especialização é para insetos.” – Robert A. Heinlein