Nascido em 1932 em Desden (Alemanha), Richter é um dos mais importantes artistas contemporâneos vivos. Richter teve uma exposição intitulada “Sinopse” aqui em São Paulo, na Pinacoteca, em 2011. Foi quando vi estas obras ao vivo.
As fotos (ruins, desculpe), são minhas. O nome já enunciava as suas dimensões. Com apenas 27 obras, escolhidas pelo próprio Richter, propunha-se a exemplificar cada fase do artista. Segundo a expografia, “desde os trabalhos de fotografia-pintura dos anos 1960, até as pinturas abstratas dos anos 1980 e 1990”.
A arte de Gerhard Richter não segue uma intenção, um sistema, um estilo, ou uma mensagem. O que a rege é uma ética artística de prática cotidiana, relacionada somente às condições representadas por ela mesma. Richter utiliza motivos variados, estilos e citações da história da arte, porém, seu único e grande tema, em última análise, é a pintura. Suas peças ora são puras, sobre a tela, ora misturadas a fotografias e recortes de jornal. Em alguns casos, como em obras presentes nesta mostra, ele primeiro reproduz a fotografia em pintura, e, depois, volta ao modelo original, fotografando seu trabalho, sem que se percam as características da obra produzida à mão.” (PINACOTECA, 2011*)
A seleção das obras de Richter na Pinacoteca incluiu óleos abstratos de grande porte (mais recentes), fotografias, impressões e as pinturas sobre fotografias.
A exposição foi realmente uma “sinopse” mas infelizmente com alguns problemas. O primeiro e mais óbvio deles é o tamanho em si da mostra que, com apenas 27 obras, não consegue representar a amplitude deste artista. Outra questão que muito me incomodou foi a expografia, que traduziu indiscriminadamente para “impressão digital” técnicas tão diferentes como cibachrome e offset.
Apesar de concordar que Gerhard Richter dispensa apresentações, pareceu-me faltar uma explicação maior para o público leigo sobre as várias fases da obra do artista presentes na exposição: era necessário conhecer algo do artista para compreender a sequência e a seleção da exposição.
Mesmo com a presença marcante de Betty, a obra que mais me impactou foi Hood, de 1996.
Hood é uma impressão offset de uma pintura sobre uma fotografia originalmente publicada no jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung e de autoria da agência de notícias DPA (Deutsche Presse Agentur). A fotografia foi pintada e depois refotografada e impressa em offset. A reprodução desta exposição tem 44 cm x 43.7 cm e, de acordo com o site oficial do artista**, é uma impressão sobre papel artesanal japonês.
A obra mostra uma pessoa sendo conduzida, com as mãos atrás do corpo. Aparenta ser uma cena do noticiário policial. De acordo com a leitura ocidental, da esquerda para a direita, Richter pinta o “antes” da imagem.
A pincelada, que claramente começa à direita, permite a leitura do gestual do artista, pontuando como início a ação, o conduzir da pessoa com o casaco de capuz, que dá título ao quadro.
Apesar de não ter encontrado referência bibliográfica específica sobre esta obra, o meu entendimento é o do apagar do passado – quase como em Brecht (apaguem os vestígios!) – retirando qualquer possibilidade narrativa da imagem e, ao mesmo tempo, fornecendo outra.
Notas:
* PINACOTECA. Gerhard Richter: Sinopse. Informativo da exposição. Disponível em
**