Os textos autobiográficos e auto-elogiosos que os reis (do antigo Egito) e os grandes senhores fizeram inscrever nas suas estátuas e as descrições de acontecimentos da sua vida, são, desde tempos muito recuados, infinitamente monótonos.
[HAUSER]

Se até os faraós que, além de regentes supremos eram também deuses, colocavam um texto ilustrado na entrada de suas pirâmides sobre quem eles eram, fica me parecendo bastante arrogante não ter uma página biográfica em sites. O tom, entretanto, é difícil de conseguir. Corremos um grande risco de sermos “infinitamente monótonos”.

Dependendo da área profissional do nosso cliente, por exemplo, adotamos um tom mais ou menos formal. Ao escrevermos algo para nosso site, entretanto, não sabemos quem nos lê e isso é sempre uma dificuldade.

O filósofo Jean-Jacques Rousseau certamente não tinha problemas de auto-estima:

Tomo uma resolução de que jamais houve exemplo e que não terá imitador. Quero mostrar aos meus semelhantes um homem em toda a verdade de sua natureza, e esse homem serei eu. Somente eu. (…) Se a natureza fez bem ou mal quando quebrou a fôrma em que me moldou, é o que poderão julgar somente depois que me tiverem lido.

O poeta Mario Quintana é melhor humorado:

Nasci em Alegrete, em 30 de julho de1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão.

Reparem que ambos colocam sua obra como a representação máxima de suas biografias. Estão certos. Nosso trabalho precisa falar por nós, precisa falar alto. Nós somos nossas realizações.

Seguem aqui 5 dicas rápidas que esperamos que ajudem você na hora de escrever a página “sobre” do seu site.

Ilustríssimo cavalheiro ou qualé mané?

Um bom método – mas não o único – para determinar onde ficar entre o formal e o informal extremos é fazer um apanhado dos textos que você já publicou ou que pretende publicar. Não existe certo ou errado, mas é interessante que a sua página “sobre” siga o mesmo tom do restante do site.

Lusíadas ou Haikai?

O tamanho do texto também é uma medida complicada e nem sempre essa dica de olhar para o restante do site funciona. Para mim funcionou assim:

1. primeiro escrevi tudo – tudo! – que conseguia lembrar e que gostaria de compartilhar
2. organizei em grupos (pode ser ordem cronológica, setores atendidos, tipos de serviços prestados, etc)
3. cortei (apaguei) o máximo possível
4. esperei uma semana, sem olhar para o texto
5. voltei e apaguei mais metade
6. revisei e pronto!

Naturalmente cada um vai encontrar o seu método, mas limpar bastante o texto é importante. O seu futuro cliente não está interessado em descobrir se seu filho nasceu de cesárea ou parto normal ou se você costumava passar as férias de infância no interior (a menos, óbvio, que o seu site trate exatamente deste assunto).

Figurinhas

O que é melhor: uma página “sobre” com imagens ou só texto? Não faço a mínima idéia. Isso vai depender muito do tipo de site que você tem. Existem mercados que valorizam muito a imagem do profissional e aí uma foto sua é de bom tom.

Existem mercados em que o texto é mais importante. E você pode ainda criar algo completamente baseado em imagens ou até mesmo em uma história em quadrinhos. Depende muito de onde você atua ou quer atuar.

Agora, uma coisa eu sou capaz de dizer: não seja arrogante ao ponto de achar que o seu leitor tem obrigação de conhecer jargões da área. Não precisa escrever um glossário mas, se usar algum termo profissional de nicho, coloque um link para a sua explicação ou troque por um termo mais acessível. É melhor, por exemplo, escrever “sistema gerenciador de conteúdo” do que “cms”.

Não vai te custar nada e pode significar aquele momento mágico em que você consegue fazer o leitor se interessar pelo que você faz.

Metamorfose ambulante!

Nada, nada, nada, nada (eu já disse nada?) pior do que uma página biográfica desatualizada, com  um contato que não funciona mais ou com uma informação velha.

Redes sociais são maravilhosas mas nós temos o péssimo hábito de achar que, por mantermos as novidades em dia nas redes, todo mundo já sabe o que está acontecendo e isso simplesmente não é verdade. Sua biografia precisa ser representativa de quem é você. E você não quer passar uma imagem de algo que não funciona mais ou que fala a mesma coisa desde o século passado, não é? (Raul RULES)

Especialmente se você for freelancer, não tenha medo de colocar também os assuntos que te interessam, o que você está estudando, o que planeja para o futuro. É sempre bom saber que a pessoa que está sendo contratada vai crescer, vai evoluir.

Isso é valor agregado e passa uma mensagem clara de que se você se deparar com algum problema que não sabe ainda como resolver, vai correr atrás. Lembre-se que contratar um serviço é contratar uma solução e não uma resposta padrão.

E, para finalizar, revise, revise, revise. Ler cachorro com x em um post já é de chorar mas em uma página institucional/biográfica é motivo mais que justo para fechar o navegador.


Referências bibliográficas
HAUSER, Arnold, 1982. História social da literatura e da arte. Tomo I. 4. Ed. São Paulo: Mestre Jou. p.60
QUINTANA, Mario. Mario por ele mesmo. IstoÉ 14 nov. 1984.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Rousseau. As confissões.Tradução de Wilson Louzada. Rio de Janeiro : Tecnoprint, 1965.