Existe uma discussão antiga, sobre se a animação está mais próxima da ilustração ou do cinema. A animação usa, a grosso modo, a formação de imagem da ilustração e a persistência da visão do cinema, ficando, portanto, realmente no meio do caminho. Quando fui na Oi Futuro ver Frederico Dalton – Fotomecanismos, saí com a nítida sensação de que, assim como a animação, Dalton fica no meio do caminho. As fotos não se sustentam sozinhas mas este não é mesmo o seu objetivo.
Usando mecanismos diversos ele sugere uma ideia de movimento que não está lá. São quadros projetados nas paredes em loop. Não muitos quadros, uns dois, quando não é apenas uma imagem tremendo. E aí ele não encosta no cinema, não encosta na animação mas abandona a fotografia tradicional. Fica no meio do caminho como todos nós.
As fotos são de praias do Rio de Janeiro e a comparação com o momento que vivemos na cidade é suculenta demais para deixar passar: o Rio também está pouco nítido, repetitivo e inerte, onde o movimento é apenas uma ilusão. Nós temos consciência desta ilusão e não nos deixamos envolver pela suspensão da realidade (que nos promete sempre o cinema).
Existe uma crítica implícita também nos próprios mecanismos: “Meus mecanismos acabam por se revelar como reação crítica às poucas e limitadas condições encontradas no Brasil”, diz Frederico Dalton.
Ainda, um outro aspecto relevante, o da projeção. Projetar uma fotografia implica em uma modificação não apenas em sua fruição mas também em sua estrutura. A imagem projetada utiliza a luz e, portanto, o sistema RGB de composição. A imagem impressa utiliza pigmento e, portanto, o sistema CMYK de composição. Pode parecer a princípio um detalhe puramente técnico mas é uma forma de pensar a imagem completamente diferente. O preto passa a ser a ausência e o suporte, suscetível a interferências involuntárias como a sombra de alguém ou um deselegante flash de máquina fotográfica, passa a ser do espectador, a pertencer ao espectador e não mais ao fotógrafo ou à sala. Sempre que incluimos fatores que não controlamos na formação de uma imagem, a concepção parte do ponto de vista do espectador (assim como no cinema) e não da interpretação anterior à visualização. E aí está uma outra crítica, talvez a maior delas: a arte que não inclui o seu espectador é antiga.
Frederico Dalton – Fotomecanismos
01 de maio a 01 de julho de 2007
Oi Futuro
Rua Dois de Dezembro, 63 – Flamengo – Rio de Janeiro
De terça a domingo, das 11h às 20h. Entrada franca.
Informações: (21) 31313060
www.oifuturo.org.br