A arte e a tecnologia são muito mais ligadas do que pensa a maioria das pessoas. Observamos a influência de uma sobre a outra desde os tempos das cavernas. No Paleolítico pintamos com tinturas naturais, musgo, barro e o que mais estivesse ao alcance. Quando conseguimos lascar pedra logo começamos a esculpir. Um pouco mais tarde, a indústria teve a iluminação de criar tinta em tubos, dando mobilidade ao pintor, que começou a pintar fora de seu ateliê. A fotografia e a indústria gráfica também influenciaram de maneira muito significativa o nosso pensar e a nossa arte. Chegamos à era da informática, e com ela a ilustração 3D, vetorial, digital, pixel art e tudo mais que seremos ainda capazes de inventar. E que bom que seremos capazes de inventar. A imaginação é mais importante que o conhecimento, já dizia Einstein. Precisamos imaginar um futuro melhor para podermos inventá-lo.

Estes saltos evolutivos, que não são nem saltos e nem evolutivos, acontecem sempre movidos ou pelo desejo ou pela necessidade humana. E o desejo e a necessidade não andam separados. Nós hoje precisamos de celulares, i-coisas e toda uma quantidade de traquitanas móveis conectadas. Primeiro o desejo ou a necessidade? A vida mudou, as sociedades mudaram, a economia evoluiu, o profissional criativo não trabalha mais batendo cartão no escritório. Naturalmente, a mobilidade – e portanto o celular e demais gadgets – tornaram-se uma necessidade. Por outro lado, é o desejo de liberdade que nos move. É impossível dissociar um do outro. Assim “evoluímos”. Coloco entre aspas porque não existe aqui uma noção de valor, ou seja, não somos melhores nem piores que nossos antepassados ou que nossos sucessores. Somos diferentes. E isso é muito.

A arte é uma criação nossa e é necessariamente um reflexo de nós mesmos. O estudo da arte, conseqüentemente, é um estudo comportamental da nossa espécie.

Tudo muda, mesmo que você não note. Quer dizer, tudo menos o reinado felino no mundo nerd, é claro. Mudar é necessário, desejado e, humano.

Até mesmo o entendimento que temos de conceitos tão básicos como infância muda com o tempo. Quando a expectativa de vida era de 30 anos, 12 anos era considerado adulto. Mesmo mais tarde, com a vida já maior, ou éramos crianças ou éramos adultos. A adolescência só foi inventada a pouco mais de 100 anos, entre o final do século XIX e o início do XX.

Construímos sociedades mas felizmente não somos formigas que passam milhões de anos fazendo a mesma coisa. Assim como o Raul, eu também prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.

A Wide completa com esta edição o seu primeiro ano de vida e surgiu de uma mudança, de uma mutação que uniu as antigas Webdesign e TI Digital.

Os 365,2425 dias do calendário Gregoriano sempre me pareceram uma medida bastante estranha da passagem do tempo. A medida dos índios tupi-guarani fazia muito mais sentido. Eles contavam os anos pela época da colheita de caju, que – sem estufas e outras tecnologias agrícolas – acontece entre agosto de outubro. Então, fica aqui os meus parabéns à Wide e o voto de que muitas colheitas ainda venham!

 

VIGNA-MARÚ, Carolina. A colheita do caju. Revista Wide, Rio de Janeiro, p. 42, 01 out. 2011.