Um leitor aqui do Carreirasolo.org pediu um artigo sobre distribuição no mercado editorial e esta é a minha tentativa de expor o pouco que conheço. Sempre contratei profissionais ou empresas para isso e portanto é importante deixar claro que este artigo não se propõe, de forma alguma, a ser completo ou muito menos a resposta para tudo.
photo credit: Ian Muttoo
Primeiro contato com livrarias
Se você estiver pensando em fazer a distribuição você mesmo – o que eu não aconselho –, o contato com as livrarias é na base do uma por uma. Claro que existem grandes redes, com muitas lojas, onde o acordo é centralizado mas elas costumam ser mais difíceis de entrar com poucos títulos.
É bastante comum as grandes livrarias só aceitarem acordos a partir de um determinado número mínimo de títulos a serem comercializados. Quanto mais títulos, melhor o acordo normalmente. E aqui temos o primeiro grande dilema do micro-editor: para conseguir um distribuidor, ou seja, alguém que faça isso para você, muitas vezes também é necessário uma quantidade mínima de títulos.
Não desista. É difícil mas é possível. Existem distribuidores de menor porte que fazem este trabalho para você e também nada te impede de começar a distribuição em livrarias selecionadas e, aos poucos, conseguir colocação em todas (ou quase todas).
Colocação de publicações à venda
Uma vez que o acordo com aquela livraria já foi estabelecido, você precisa entrar em contato para oferecer o título. Isso vale tanto para títulos novos quanto para reposições de títulos já vendidos. Fazer uma pequena apresentação do produto não é nada mal mas nem sempre o livreiro tem tempo para ouvir, mas deixa preparada. Neste contato você pergunta quantos exemplares o livreiro quer.
O livreiro normalmente não compra o seu livro ou revista, ele coloca em consignação para venda. Quando o livreiro perguntar “qual o meu desconto?” o que ele quer saber é quanto você vai dar pra ele em cima do preço de capa. O normal para editores iniciantes é 50%. Com o tempo, com mais títulos e mais força de mercado, você vai conseguir negociar valores melhores do que esse mas no começo a facada costuma ser de metade mesmo.
Por isso é importante calcular o seu preço de forma que 40% (100% – 50% livraria – 10% autor) cubram todos os seus custos, inclusive gráfica, papel, ilustrador/fotógrafo, diagramador, infra-estrutura, revisores, salários e demais serviços.
Os dados necessários para o faturamento, que você precisa perguntar no primeiro contato com o ponto de venda são:
- Razão social
- CNPJ
- Endereço completo (rua, nº, complemento, bairro, cidade, estado e cep)
- Telefone
- Inscrição Estadual
Acertos
O “acerto” é quando você descobre o que vendeu e portanto o que você vai receber. Ou seja, a verificação de quantos exemplares foram vendidos para que então a nota fiscal de venda seja emitida. As livrarias podem levar até 90 dias para pagar. Neste momento você também pergunta se a livraria quer reposição, ou seja, se quer mais exemplares daquele título que vendeu. Nem sempre a livraria repõe tudo que foi vendido.
Então, por exemplo, supondo que você colocou 10 exemplares na livraria para vender; vendeu 8; a livraria pode pedir só 2 ou 3 de reposição, não necessariamente, ao querer uma reposição, o livreiro vai querer voltar ao número inicial da primeira colocação.
Este acerto raramente é mensal. Pergunte ao livreiro a data de sua preferência para o próximo acerto. Evite fazer acertos em dezembro. Os pontos de venda estão atolados com Natal e normalmente não fazem acertos e nem reposições nesta época.
Depois de feito o acerto, você precisa emitir a nota fiscal de venda daqueles exemplares vendidos e em seguida um boleto bancário de cobrança. A maioria dos bancos tem este serviço para as contas empresariais.
Nota Fiscal
Os pontos de venda só podem ter exemplares expostos se tiverem uma nota fiscal. Ou seja, qualquer produto que você coloque à venda em uma livraria ou outro ponto de venda precisa ser acompanhado de uma nota fiscal, que por sua vez pode ser de consignação ou de venda.
Consignação
Quando as revistas são entregues a uma livraria para posterior venda, é considerada nota fiscal de consignação. Toda nota tem um código específico, o CFOP (Código Fiscal de Operações e Prestações), que muda quando você emite nota para outro estado. Existe ainda um terceiro número, que é para quem emite para o exterior mas este eu nunca usei e não sei direito como funciona.
Quando é para o mesmo estado, o código CFOP para consignação é 5917 e quando for para outros é 6917. Isto é levando em consideração o endereço da sua empresa e o da empresa do ponto de venda, informação que você perguntou para poder emitir a nota; não no endereço de entrega dos exemplares, que muitas vezes é só uma central de distribuição/recebimento. A tabela completa encontra-se online neste endereço.
Venda
Depois do acerto, quando a venda já foi realizada, é necessário emitir uma nota fiscal da venda daqueles exemplares. O CFOP para isso no mesmo estado é 5113 e para outras unidades da federação é o 6113.
Depois de tudo isso, ainda tem a emissão do boleto bancário. No felizmente curto período em que eu precisei fazer isso, usei o serviço do Unibanco para as contas empresariais e nunca tive problemas. Consulte o gerente do seu banco a respeito, ele com certeza terá soluções para isso. E, se tudo mais falhar, use um dos vários serviços de emissão de boleto online que existem por aí.
As datas dos acertos e dos pagamentos são determinadas pelo ponto de venda.
Normalmente quem paga o transporte é o editor. E é o editor, inclusive, que precisa retirar o encalhe do ponto de venda.
Promoções, brindes e afins precisam ser negociados caso a caso com cada ponto de venda.
É comum o editor não ter muito tempo entre o recebimento do acerto do ponto de venda e a sua prestação de contas com o autor, então é importantíssimo que você seja extremamente organizado.
Incompleto, é verdade
Como disse no início, não sei muito a respeito de distribuição porque sempre contei com profissionais para isso, mas espero que este artigo já dê alguma luz sobre a questão. Quero também agradecer à Cláudia Mello Belhassof, tradutora e administradora de empresas, que foi quem me ensinou o pouquinho que eu sei e quem fez todo o posicionamento da revista Next Brasil, dirigida pelo sociólogo Domenico De Masi tanto aqui como na Itália e editada por mim aqui no Brasil até 2006.
Contribuições são bem-vindas nos comentários!