Tudo que o Luli Radfahrer, professor-doutor de Comunicação Digital da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, faz é bem feito. Agora, especificamente, falo de seu último livro, Enciclopédia da Nuvem (Editora Campus-Elsevier), que apresenta “10 situações, 10 propostas, 100 ideias, 340 ferramentas, 220 serviços, 130 cases e sugestões” para, sobre, com e, usando Cloud Computing. Eu provo:
Conteúdo
Cada verbete da enciclopédia apresenta a ferramenta, business cases, ferramentas adicionais, sugestões de uso, situações reais, propostas, recomendações e cuidados a serem tomados. Como se não bastasse, os verbetes serão sempre atualizados online, organicamente no site do livro.
Ricamente ilustrado com printscreens das ferramentas, já consigo imaginar a primeira edição sendo disputada a tapa por colecionadores em um futuro breve. Será, certamente, um registro de toda uma época e um momento de grandes transformações.
Aspectos mercadológicos
Público-alvo: Logo de início, Radfahrer define com clareza e objetividade a quem se destina o livro:
Este não é um livro técnico para profissionais de TI. É um livro de negócios, para todos. Por ter o formato de uma enciclopédia, sua função é apresentar, ilustrar e sugerir novas ferramentas e possibilidades. Não faria sentido restringir sua leitura aos poucos que já dominassem um determinado jargão ou conhecimento técnico. Tampouco é destinado àqueles que desconhecem a Internet, seu histórico, como funcionam browsers, e-mail, sistemas de noticações e mensagens instantâneas, redes sociais ou repositórios de imagens. (p. xvi)
Com isso, não apenas o leitor fica informado como também o ponto de venda. Isso facilita na hora da colocação do livro no pdv. Ou seja, ele está se ajudando, de forma direta e coerente.
Design editorial
Ao formatar a informação como uma enciclopédia, Nuvem utiliza a piscologia da Gestalt, assunto que o professor conhece bem. A Gestalt, em uma explicação superficial, afirma que o todo é diferente da soma das partes porque considera a pregnância da forma.
Em português: aquilo que você já conhece será reconhecido (conhecido novamente). Mesmo que não seja explícito, será percebido. Isso é aplicado exaustivamente em tudo que é lugar. Em design editorial também. No caso de Nuvem, Radfahrer optou por usar um design imediatamente reconhecido e, ao mesmo tempo, rapidamente assimilado por aquele alienígena que acabou de chegar aqui e está desesperado precisando conhecer os serviços disponíveis na nuvem terrestre.
Para quem curte o assunto, as leis da Gestalt a que me refiro são Proximidade e Continuidade (estrutura do verbete) e, especialmente, Experiência Fechada, que diz mais respeito à psicologia do que ao design e é uma lei relacionada ao conhecimento anterior, ou seja às associações que fazemos a partir de nosso repertório.
Dimensões
Apesar de ser uma enciclopédia, o formato 16×23 cm só lembra a Encyclopædia Britannica pela constante revisão e atualização do conteúdo, não pelo peso e quantidade de volumes. Não precisamos pegar emprestada a bolsa do Gato Félix para levar Nuvem por aí. E, claro, novamente, além de facilitar a nossa vida, coloca o produto na prateleira.
Posicionamento
Radfahrer sabiamente não levanta bandeiras, não abraça cegamente plataformas e não é seguidor de nenhuma hype:
Este livro é agnóstico. Não defende plataformas, tecnologias, atitudes ou modelos de negócios, já que isso prejudicaria a análise cuidadosa de cada ferramenta e prática. No entanto, para evidenciar as principais características de cada serviço é preciso tomar posição. Isso fará com que algumas páginas, lidas em sequência, pareçam esquizofrênicas. Para falar de análise de métricas, por exemplo, é preciso defender a marcação de cada interação de usuário, estabelecendo um ambiente de constante vigilância. Para falar de privacidade é preciso defender o contrário e propor o completo anonimato.(idem)
Gosto imensamente do bom humor e auto-crítica. Um autor (ok, isso vale para todos, uma pessoa…) que é capaz de rir de si próprio é, para mim, um autor melhor. Faz com que eu tenha confiança no que escreve.
Sei que o que leio passou por reflexão e, mesmo que pareça esquizofrenia, é um pensamento existente, estruturado, questionado e revisto. É este processo, este crivo, que nós queremos ler (e compramos), não é apenas uma sequência cuspida de informações aleatórias sobre papel como, infelizmente, vemos muito por aí.
Nuvem é um livro – independente de no formato enciclopédia ou não – muito bem escrito, onde notamos o cuidado e o carinho com cada vírgula. Esta, aliás, é uma característica do autor.
Crítica
Para vocês não ficarem aí achando que é só flores, a data do lançamento é estranhíssima. Segunda-feira, dia 9 de abril de 2012, logo depois da Páscoa, das 19 às 22h, na Editora Abril – Avenida das Nações Unidas, 7.221, Mezanino, São Paulo/SP.
Este é um livro para ser lançado com toda pompa, não em uma segunda-feira de noite, ora bolas.