Preciso confessar uma coisa. Eu adoro o “macabro”. Gosto do Dia dos Mortos mexicano, gosto de tudo. Gosto até mesmo do infantilizado Halloween. Quando pequena, minha fantasia predileta era de fantasma, o que muito devia deixar meus pais felizes porque um lençol branco com furos na altura dos olhos não exigia uma produção muito elaborada ou uma carteira cheia. Muito me fascina como o ser humano, consciente de sua própria temporalidade, lida com o tema da morte.
Gosto até, para vocês terem uma idéia do quanto o tema me agrada, da moralizante Vanitas, quando uma obra de arte – normalmente um quadro – resolve esfregar na nossa cara que somos todos temporários e que, portanto de nada adiantam nossas pequenas vaidades (daí o nome) cotidianas.
A má notícia é que o único que conseguiu vencer o tempo foi Zeus e mesmo assim precisou matar o próprio pai, Cronos, para isso. A imortalidade é para poucos. A boa notícia é que ao tirar o monopólio da publicação e distribuição de uma meia-dúzia de mãos, nada nos impede de vivermos eternamente através da nossa obra.
Hoje em dia quem dita a moda são os vampiros. De uma hora para outra, deixaram de ser imagens sombrias e passaram a objetos de desejo e acho que isso fala mais sobre a nossa sociedade do que sobre os sedentos dentuços. Perpetuar-se, ou seja, vencer a morte, tornou-se muito mais simples. Podemos escrever em blogs, publicar ebooks, criar exposições virtuais e até mesmo deixarmos registrada nossa imagem e voz para todo sempre ou pelo menos enquanto existir o Youtube, o que dá mais ou menos no mesmo. Vencemos o medo de nossa finitude. Vampiros são populares. As religiões (reencarnacionistas ou não) ganham força. Nunca se publicou tanto. Nunca se registrou tanto. Estamos todos tentando vencer o tempo.
Faço aqui, então, a pergunta: O que você é capaz de criar algo digno da eternidade? Eu ainda não sei o que responder a isso, mas estou procurando. Não importa o quanto seja bom, não se satisfaça, não se acomode. Busque mais, sempre mais. E melhor. Aí sim você terá vencido.