Um hábito só não mais estabelecido por incompetência minha é ir com cachorro na padaria tomar café da manhã. Cachorro adora pão de queijo. Eu adoro tapioca. Temos um acordo.
Ficamos lá olhando as modas até enjoar. Porque se tem uma coisa que cachorro e eu gostamos muito é ficar olhando a cidade, as pessoas, o movimento.
O problema é que cachorro não gosta muito de skate, bicicleta ou patins. Ele acha muito, muito estranho esse negócio de humanos deslizantes. Não gosta de humanos com rodas de uma forma geral. Não posso culpa-lo. Eu acharia desconcertante, certamente, se visse algum cachorro deslizando. Deslizar não é coisa confiável, ele tem toda razão. Nós fomos feitos para andar, no máximo correr e, em dias de chuva em que a caminhada está comprometida, dirigir o passeio portátil de metal.
Então, eis que estamos nós dois numa mistura bem interessante entre o carioca e o paulistano (mesa na calçada é coisa de carioca; tomar café da manhã na padaria, de paulistano). Obviamente passa por nós toda variedade de humanos deslizantes, provavelmente mais do que passa a semana inteira por ali. Com o puxão, quase voamos cadeira, café, tapioca, pão de queijo, mesa e eu. É um cachorro grande.
Terminado male e male o café, um menino de seus 7, 8 anos, com o pai e uma bola, me pergunta “ele morde?”. Não, é mansinho (respondo depois de me certificar que o menino não possuía nenhum objeto com rodas). E não é que o cachorro quer a bola do menino? Por sorte, eram todos – pai, menino e bola – cachorreiros e acharam graça.
Volto para casa, Eva Perón – também conhecida como “o pequeno demônio caramelo”, a gata fatale, a felina selvagem, a fera indomável –, olha para a minha cara, sai correndo, pula na pia da cozinha, enfia as patas na água, se assusta, pula de volta e cai onde? Acertou. Em cima do cachorro que, por sua vez, sai correndo como se fosse touro bravo em rodeio. Eu ria tanto que nem fotografar para mostrar para vocês consegui.
Olha, vou contar para vocês. Depois da semana que tive, só mesmo quadrúpedes – esses, não os do Planalto – para me alegrar.
Publicado no portal Vida Breve em 27 de novembro de 2017.