Ser professor nos faz entrar em contato com umas situações engraçadas. Se você pensa que berimbau é gaita, está muito enganado. Pode ser bem complicado às vezes.
Um aluno conseguiu, no último minuto, enviar um trabalho que o salvou da reprovação na disciplina. Eu falei “salvo pelo gongo” e ele me perguntou o que é um gongo. Expliquei o sentido da expressão e o que é um gongo, mas fiquei pensando em quão absurdo um gongo é para a geração nascida nesse milênio.
Algumas expressões, se pararmos para pensar um segundo, não fazem o menor sentido. Vi um comediante falando que não entendia o conceito da pizza sem borda. A pizza não pode ser infinita, toda pizza tem uma borda. Estou com ele e não abro.
Outra que me deixa doida é a tal comida orgânica. É orgânica em oposição a quê? Inorgânica? O ser humano não digere nada inorgânico. Toda comida é orgânica. Pode ser orgânica temperada com agrotóxico, mas ainda é orgânica. Ou você come plástico?
Quem foi o barbeiro que dirigia mal o suficiente para acabar com a reputação de toda uma categoria profissional? Desde quando é o cotovelo que dói? Por que uma pulga atrás da orelha? Quem, realmente, engole um sapo? O que é uma vaca fria? Gente, coitada da vaca. Dá um casaquinho para ela.
As expressões de admiração não são menos engraçadas. Baba-se o ovo, passa-se pano, paga-se pau. Não confunda com lamber as botas ou puxar o saco. São gradações bem diferentes.
Por falar em pau, tem também a dar com pau. Se, como eu, você tem uma mente suja, pode achar uma boa ideia. Infelizmente, a origem está nos navios negreiros. Os capturados preferiam morrer durante a travessia a viverem como escravos e, para isso, deixavam de comer. Então, criou-se o “pau de comer” que era atravessado na boca dos escravos para que seus algozes jogassem sopa e angu diretamente para o estômago, em uma espécie cruel e terrível de alimentação por sonda. Depois que eu soube a origem da expressão, nunca mais usei.
Mudando de pato pra ganso, vira-casaca é, adequadamente, utilizada para falar de políticos. Curiosamente, vem do francês tourner casaque, que significa mudar de partido político. Ou seja, nem é tão estranha assim. Ao invés de ficar virando casacas, está é na hora da oposição rodar a baiana.
Amigo da onça é uma que eu nunca entendi. Prefiro mil vezes ser amiga dos miaus do que de muita gente por aí. Vai ver a escolha do ministro do Meio Ambiente foi um erro de interpretação. Alguém queria alguém amigo das onças e não se deu conta da outra interpretação possível. Eu, que sou uma pessoa pão pão, queijo queijo, queria mesmo era tirar esse filhote de cruz credo e botar um ecologista de verdade no cargo. Mas tudo bem, deixa, a batata dessa equipe está assando.
Eu gosto muito de ficar à toa. Toa, para quem não sabe, é o nome que se dá à corda usada no reboque de pequenas embarcações. Só me falta um amor que me chame para ver a banda passar.
Não tenho conseguido pregar o olho com o pânico que o genocida me causa. Deixa, peixe. Quando você cair, vou enfiar o pé na jaca.
Bom, vou parar de viajar na maionese e deixar você em paz. Continuarei aqui fazendo o que faço de melhor: pensar na morte da bezerra.
Crônica publicada no Rascunho em 17/06/2021