Existe uma enorme quantidade de coisas que simplesmente não nos contaram e que não contamos de geração para geração porque supomos ser algo tão óbvio que não é necessário avisar.
Antigamente, a gente comprava feijão a granel na feira. Sim, eu sou velha assim. Morando sozinha pela primeira vez, decidi fazer feijão em casa. Não podia ser tão difícil. Fiz. Ficou até mais ou menos saboroso. Infelizmente, quebrei um dente porque ninguém me avisou que precisava escolher o feijão. Cozinhei com muito cuidado os grãos e as pedrinhas que sempre vinham acompanhando.
Eu esqueci de avisar a filho que algumas roupas soltam tinta e precisam ser lavadas separadamente. Tudo bem, achei linda a minha camiseta rosa-já-foi-branca. Uma renovação de vestuário de graça!
Quando ele era bem menor, ficou chocadíssimo com a necessidade de fechar as janelas em dia de tempestade. Ainda tentou discutir com o dilúvio carioca, gritando a plenos pulmões “eu estou dentro de casa!”.
Isso, sem nem falar em expressões que hoje não fazem mais o menor sentido, como caiu a ficha ou linha cruzada. Como explicar para a geração de hoje o que era esperar o telefone dar linha?
Descubro, com alguma surpresa, que as gerações mais novas não conhecem as inúmeras piadas que começam com um padre, um pastor e um rabino entram num bar. Esquecemos de contar o que acontece com os três líderes espirituais e normalmente começamos a rir antes da frase continuar. Usamos a abertura inclusive como sinônimo de piada sem jamais concluir, causando, acredite, revolta na garotada.
Existe até mesmo um vídeo altamente filosófico, interessante, rico e bem-feito intitulado “Um padre, um rabino e um pastor entram num bar…”. É religioso, não é humorístico. No Youtube, googlem. E ninguém conta a piada.
Na gringa, fizeram um vídeo desses de conversa reflexiva com o padre Chris Schuler, o rabino Jim Morel e um ateu homossexual convicto, Carlos Diller. Os três fumam maconha juntos. Eu achei todo o conceito muito engraçado.
Sam Warren escreveu um tratado a respeito: “O padre, o pastor, e o rabino: um estudo intelectual de irreverente, politicamente incorreto, humor religioso desagradável”. É sério.
Aí você vai lá e googla a piada e o resultado é o seguinte: “Um pastor, um rabino e um padre entram no bar. O balconista diz: Isso é algum tipo de piada?”.
O Google me odeia.
Crônica publicada no Rascunho em 24/06/2021