Quando minhas unhas estão realmente mal de saúde, das pernas, desistindo da vida, eu recorro a um tipo muito específico de bruxaria que atende pelo nome de “banho de gel”. Não é um banho, exatamente. É mais no sentido de banho de loja, esse tipo de banho. A brux… a manicure usa um pincel com formato de cauda de peixe, com direito a escamas pintadas e tudo mais. E agora eu estou absolutamente obcecada com pincéis em formatos engraçados.
Procurei, sem resultados muito satisfatórios, pincéis com senso de humor. Patas e rabos de tudo que é bicho que vocês possam imaginar, uma cobra, aspargos, avião, trem, gravetos, flores. Vocês já sabem do que eu sou capaz.
Paro em um café e há uma moça, seus 20 e muitos, 30 e poucos, tentando convencer um muito paciente namorado de seus 40 e muitos, 50 e poucos, de que runas, numerologia e astronomia não são minimamente ligados a qualquer tipo de misticismo.
Não vale a pena, moço.
Nina me olha e me julga. Ela diz não se mete, mamãe. Eu escuto. A sabedoria social canina é muito maior que a minha. E eu nem preciso cheirar os traseiros das pessoas para saber disso. Fico quieta, conversando com a Nina através de olhares, orelhas e olheiras.
Uma mulher grita na rua com alguém fora de enquadramento. Nina se assusta, então decidimos esperar no café. Ainda bem que é 24h.
As férias que não consegui tirar estão acabando.
A treta da semana é a tentativa de assassinato do Twitter. O suspeito do crime é o sr. Almíscar, é claro. Capaz até de ser bem-sucedido eventualmente, de tanto que se esforça. O logo agora não é mais o simpático passarinho azul mas uma letra X das mais sem graça. É um X tão sem sal quanto seu dono. Meus amigos passaram horas de suas vidas catando imagens do finado Xou da Xuxa e me mandando com links de tweets aleatórios. Uma homenagem, é claro, é um pessoal sério, jamais seria de sacanagem, imagine. Sim, meus amigos a) são velhos e b) têm muito tempo disponível.
RIP passarinho.
Penas de alguns pássaros, aliás, são ótimas canetas de nanquim.
Abro o sketchbook. Do jeito que essa mulher está irritada, ficaremos aqui até amanhã.
Nina, apesar de ter rede social, não dá a mínima para nada disso. Ela, inclusive, não gosta de passarinhos. O que ela quer é acesso à minha agenda para entender o que significa férias, o que significa férias acabando e quando serão seus passeios.
Acho muito injusto não poder levá-la para o trabalho comigo. Garanto que as aulas seriam divertidas. Improdutivas talvez, mas divertidas.
Crônica publicada no Rascunho em 27/07/2023