Não sou muito inteligente. Eu faço uma resistência infundada e injustificada a novos utensílios domésticos. É uma perda de tempo e um desperdício de esforço, absolutamente autoinfligidos. A única pessoa que se prejudica com isso sou eu mesma. A tecnologia está lá e eu, no entanto, teimo em não mudar o modo de fazer as coisas, especialmente na cozinha, apenas porque sim. Preguiça de aprender outro jeito de fazer ovo, sabe? Gente, é ovo. Não é um foguete nuclear. É ovo. O-v-o.
Tenho, entretanto, alguns desejos domésticos, como camisetas de algodão que não precisem passar. Se eu passo roupa ou não é irrelevante, estou falando da necessidade, não da ação em si. Também quero ventiladores de teto autolimpantes, lâmpadas que não queimem, baterias que não acabem, forminhas de gelo que se encham sozinhas e um bluetooth que não brigue comigo toda santa vez.
Gatos e cachorros que não soltem pelos (mas que os tenham) seria bem interessante também. Fica a dica, engenharia genética.
Das novidades hitech que existem, meu único sonho de consumo é aquele robozinho aspirador, mas ainda está muito caro. Vou esperar o preço baixar ou morrer atacada por ácaros, o que vier primeiro.
Tirando isso, costumo fugir da tecnologia doméstica. Não por fobia da tecnologia, veja bem. Adoro tecnologia. É a parte doméstica da coisa que me causa desagrado. Se um dia eu ficar milionária nível Mega-Sena da virada, me mudo para um hotel. Não farei mais nem café. Gastarei toda a minha fortuna em delivery. De preferência, via aplicativo, que não me obrigue a falar com pessoas.
Também não tenho esses aparelhos ativados por voz para casas inteligentes. Não quero que a minha casa seja mais inteligente do que eu. É uma questão de autoestima, sabe? Preciso me manter pelo menos um pouco mais esperta que objetos inanimados.
Enquanto a fortuna não vem, comprei um airfryer. Sim, como sempre cheguei tarde no rolê do fazedor de nuggets. Ou, como dizem as más línguas, “o aparelho de todo homem solteiro que não sabe cozinhar”. Gente, nada contra. Não saber cozinhar deve ser libertador. Ser homem, por sinal, também. Eu entendo.
O mais divertido desse episódio foi a seguinte conversa:
— Sucumbi e comprei um airfryer.
— Legal! E a capacidade? Dá pra fazer uma refeição?
— Ah, acho que sim, comprei um de 4 litros.
— Hmmm… Dá pra fazer uma bela sopa.
A pessoa escuta airFRYER e pensa em quê? Isso mesmo, em sopa. Refeição que, inclusive, não dá para fazer no simpático aparelhinho. Mafalda feelings.
Crônica publicada no Rascunho em 22/04/2021