Cometi muitos erros na minha vida. Tenho especial carinho por todos eles. Entretanto, merecem destaque os erros de celular. Erro 1: instalei o aplicativo de compras da Amazon. Erro 2: instalei o aplicativo do Pinterest.
O aplicativo da Amazon, também conhecido com a tentação demoníaca em formato digital, fica me oferecendo livros interessantes que, sim, eu quero. Um horror. Deviam proibir esse absurdo.
O meu Pinterest é organizadíssimo, tem mais de 7 mil “pins” e quase 8 mil seguidores. Se fiz (tentei fazer) três desses projetos, foi muito. No entanto, em algum lugar desse pandemônio que eu chamo de cérebro, está guardada a informação de que existem armazenadas ali as receitas para um jantar à base de abobrinha, como costurar um kilt, instruções para instalar um dry wall, dicas para uma maquiagem perfeita e os planos de corte de um cavalete em MDF. Tudo coisa assim, que eu preciso no dia a dia, como vocês podem observar.
O Pinterest é responsável por 50% da minha procrastinação. Os outros 50% são só eu, distraída, olhando para a parede mesmo.
Esse negócio de se entreter olhando para o nada pode assustar as pessoas. O povo acha meio estranho. Uma vez, numa tentativa de parecer menos esquisita do que eu de fato sou, tentei aprender a pescar. Pescaria, afinal de contas, é ficar olhando para o nada com uma desculpa na mão.
Meu então professor de pescaria era um exímio pescador. A culpa não foi dele. Com a maior boa vontade, me explica todo o funcionamento da coisa. Como faz. Como coloca o anzol. Como colca a isca. Como segura na vara (oops). Como joga a linha. Foi nessa última etapa que eu dancei. Fiz toda a pose, postura correta, vara na mão (oops) e… Pesco uma manga. Verde, ainda por cima. Consegui arremessar o anzol na árvore que estava atrás de mim. Sim, eu sei, soltei a linha antes do que deveria. A física da coisa é compreensível. O ridículo foi tanto que fiquei traumatizada e nunca mais tentei pescar.
Continuo, entretanto, achando que o Fish TV é o melhor canal já transmitido em toda a história da televisão. Tem uma mulher lá, em pé num barquinho no meio do nada. Fala ah aqui no lago tal tem muito o peixe tal. E ela fala isso enquanto arremessa o anzol na água. Em um movimento contínuo, sem cortes, sem truques de edição, ela tira da água o peixe tal, gigantesco. O peixe estava vivo. Ou seja, a minha hipótese de que a equipe tinha passado numa peixaria antes e colocado um mergulhador lá embaixo esperando o anzol chegar para botar o peixe se provou falha. A mulher joga o peixe de volta na água. Amiga, se um dia eu pesco um peixe desse tamanho, levo para casa e mostro até para o dono do restaurante vegano. Como assim jogar o peixe de volta? Até porque, vamos combinar, pescar nessa velocidade só pode ser coisa de peixe suicida.
Muito irritante esse negócio de gente que faz as coisas melhores do que eu. Deviam proibir esse absurdo.
Publicado no portal Vida Breve em 07 de agosto de 2017.