Crônica "Guaxinim fluorescente", publicada no Rascunho em 11/04/2024. Ilustração: Tereza Yamashita. https://rascunho.com.br/cronistas/carolina-vigna/guaxinim-fluorescente/

Nina fez xixi na sala. Na frente do sofá.

Agora, ao invés de comer sofás, ela os rega.

Quem nunca.

Existe uma coisa chamada “Doença do Nobel”. É, basicamente, um monte de prêmio Nobel que faz ou diz umas coisas bem idiotas.

James Watson, Nobel de Medicina, disse que negros são menos inteligentes que brancos e que gordos são menos ambiciosos.

Kary Mullis, Nobel de Química, afirmou que conversou com um guaxinim falante e fluorescente.

A lista de pessoas inteligentes que fazem coisas estúpidas é grande. Eu e Nina, claro, somos membros integrantes. Só não tão famosas.

Aristóteles acreditava que mulheres tinham menos dentes do que homens. Foi casado duas vezes.

Arthur Conan Doyle, médico e escritor, acreditava em todo tipo de charlatanismo mediúnico. Seu amigo, o mágico Harry Houdini, tentou sem sucesso convencê-lo de que aquelas coisas eram falsas.

Bill Gates disse que até 2006 o problema do spam estaria resolvido. Não particularmente burro, mas talvez cegamente otimista.

Bill Maher, o comediante, é formado em História e em Inglês por Cornell. E é antivax.

O Dalai Lama disse que se o próximo líder espiritual budista for uma mulher, precisa ser atraente.

Paris Hilton, que como todos sabem não está exatamente preocupada com boletos, disse que aconteceu a ela tudo de ruim que pode acontecer a alguém.

Pitágoras — sim, o da matemática — nunca comia feijões e acreditava que permitir um ninho de andorinha no telhado era perigoso.

Steve Jobs recusou tratamento e cirurgia para o seu câncer de pâncreas, detectado em um estado inicial e com chances de uma sobrevida maior. Preferiu dietas estranhas que acabaram contribuindo para a sua morte.

William Barr, procurador-geral dos Estados Unidos, comparou o lockdown por causa da pandemia de covid com a escravidão.

Eu acredito que as pessoas são inteligentes porque fazem coisas estúpidas, não apesar de. Significa que experimentam, que ousam, que não têm absolutamente nenhuma vergonha de tentar.

Claro, não confundir com o efeito Dunning-Kruger. Isso é quando pessoas verdadeiramente estúpidas (com baixa habilidade, diz, educadamente, a definição) acham que estão sendo mais espertas, inteligentes ou perspicazes que a maioria. Cantar hino para pneu, por exemplo.

O que é um xixi na sala comparado a um guaxinim falante fluorescente, não é mesmo?

 

 

Crônica “Guaxinim fluorescente”, publicada no Rascunho em 11/04/2024. Ilustração: Tereza Yamashita.