Conversas que acontecem na minha casa:
— Hoje é aniversário do van Gogh!
— Liga pra ele.
— Mandei parabéns no Twitter. Se ele fosse vivo, certamente não teria Twitter, mas…
— O Lautrec teria.
— Ora, por favor, o Lautrec teria até TikTok de dancinha.
Daí fiquei pensando em quais aplicativos alguns dos meus artistas favoritos teriam. Compartilho com vocês a minha compilação. A referência bibliográfica, naturalmente, é “CABEÇA, Vozes da minha.”
Anita Malfatti: Pinterest.
Caravaggio: Tinder, Bumble, Happn, Badoo, OkCupid, ParPerfeito, Inner Circle, Grindr, Ysos, Feeld, 3Fun, 3rder, Swing’App, Swap. Todos em versões pagas e premium. Além desses, usaria Whatsapp, Facebook, TikTok, Twitter, Snapchat, Youtube, Instagram, Pinterest, Discord, Telegram, Signal e 4chan.
Claude Monet: Facebook.
Diego Velázquez: LinkedIn.
Edgar Degas: Whatsapp, Vexter, Robinhood, Clubhouse e Leadr.
Édouard Manet: Teria uma conta no Facebook, administrada pela Victorine Mereunt.
Egon Schiele: 4chan e Signal.
Fernando Pessoa: Discord.
Francisco de Goya: Reddit, Pinterest, Youtube, Facebook.
Frida Kahlo: Blogger.
Henri de Toulouse-Lautrec: Whatsapp, Facebook, TikTok, Twitter, Tinder, Happn, Snapchat, Youtube, Instagram e Pinterest.
Jackson Pollock: Snapchat e Facebook.
Johannes Vermeer: Vakinha, Catarse e Kickante.
Leonardo da Vinci: Waze.
Michelangelo: “você me respeite”, disse ele ao ser perguntado.
Pablo Picasso: Whatsapp, Facebook, TikTok, Twitter, Tinder, Happn, Snapchat, Youtube, Instagram e Pinterest.
Salvador Dalí: influencer TikTok.
Victorine Mereunt: LinkedIn, contra a sua vontade.
Vincent van Gogh: Não teria nem celular. Usaria um telefone fixo ligado a uma secretária eletrônica com defeito. Sim, em 2022.
Esse exercício é tão divertido quanto inútil. Diria até mesmo, ridículo.
Lembro de Álvaro de Campos (Fernando Pessoa) e o Todas as cartas de amor são ridículas.
Ingressei em uma campanha pessoal, pequena, tola e, provavelmente, fracassada para devolver a poesia, a beleza e a brincadeira ao brasileiro. Esqueci de dizer que a campanha é também megalomaníaca.
Andamos tão surrados por fascistas comemorando um golpe que matou e mutilou, por governantes psicopatas ameaçando uma guerra mundial, por uma desgraça de vírus, por rinha de milionário no Oscar, por… Por. Chega. Andamos surrados, maltratados, cansados.
Que venha a arte, o humor e o amor. Que venha o ridículo, o bobo, o leve.
Afinal de contas, só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são ridículas.
Crônica publicada no Rascunho em 07/04/2022.