Oi, Netflix, minha linda, tudo bem contigo? Escrevo para dizer que curti muito a ideia do botãozinho “toca alguma coisa”, mas o que a gente precisa mesmo é de uma categoria não-pensante. Vai que eu te peço para tocar alguma coisa e você, se baseando no meu histórico, me oferece algo que me obriga a raciocinar? Cruz credo.
Tem horas que a gente só aguenta bobagem.
Precisamos de um botão “moro no Brasil, me ajuda”. Concordo que em termos de marketing não é muito bom. Você é boa nessas coisas, vai criar um título melhor. Minha sugestão: Braju, uma corruptela da soma de Brasil com ajuda.
“Braju: uma categoria exclusiva para quem leu jornais e sobreviveu até o final do dia sem matar ninguém ou se tornar alcoólatra”. Ok, talvez marketing não seja o meu forte.
A categoria Braju séries precisa ser caprichadamente burra. Conto com você. É esse o momento de empurrar toda a velharia impensante pra gente. Presta atenção, estou falando de um conteúdo sem o menor risco de pensamento. Estou falando de séries como Supermáquina, Os gatões, Magnum, Esquadrão Classe A, Três é demais, Casal 20, A gata e o rato, Alf, Miami Vice, Família Dinossauro ou qualquer outro lixo enlatado que você tiver guardado aí no armário. Não me venha com qualidade ou reflexão. Quem chega ao final do dia no Brasil que recusa vacina não quer pensar, quer apenas existir.
Alguns de nós preferem uma relação mais one night stand, sem o compromisso de um relacionamento a longo prazo. Ou seja, preferem filmes.
Na Braju filmes podemos ter todos do Indiana Jones, 007 e similares. Além, claro, de pérolas da alienação como Os caça-fantasmas, Splash, Gremlins, Os Goonies, Highlander, Os fantasmas se divertem, Quero ser grande, Querida encolhi as crianças, Esqueceram de mim, Tartarugas ninja, Jumanji, Missão impossível (de 1 a 60), MIB, As branquelas, Operação babá. O repertório é grande.
Sempre podemos contar com a indústria farmacêutica, vinícolas e Hollywood nessas horas de aperto.
Agora, uma coisa importantíssima: a Braju precisa se comportar como o navegador em modo privativo: sem histórico, sem memória. Não nos orgulhamos de assistir essas tranqueiras. É um momento de desespero. Você não pode usar isso contra a gente e depois nos oferecer conteúdo similar. Não, não queremos ser lembrados de que tudo o que conseguimos fazer, depois de ler que a Pfizer ofereceu vacina pela metade do preço e o genocida recusou, foi assistir Baywatch.
A Braju precisa ser uma coisa de cumplicidade entre nós duas, Netflix. Sororidade, me ajuda. É daquelas coisas que a gente faz pelas amigas e nenhuma das duas jamais comenta depois. Nunca. Never ever.
É o similar a roubar cartaz do filme favorito da sua amiga de um jornaleiro no meio da madrugada porque ela está tristinha por causa de um boy lixo. Caso hipotético, naturalmente.
A gente faz, mas não conta.
Crônica publicada no Rascunho em 10/06/2021