Última do ano. Daqui umas duas semanas mais ou menos, no dia 10 de janeiro, completo dois anos de crônicas semanais ininterruptas aqui no Rascunho. Tenho mó orgulho de estar aqui. Nesse ano ainda, consegui terminar o pós-doc, publicar um livro, ter outro para sair, um monte de ilustrações, alguns poemas, artigos, projetos novos, um monte de coisas. Nem todas, claro, deram certo.
Eu na verdade nem gosto de cachaça, mas a anedota “o povo só vê as pingas que eu tomo, mas ninguém vê os tombos que eu levo” cabe feito uma luva na minha vida. Sigo tentando, criando, sonhando, quebrando a cara, tropeçando, levantando, continuando. Eu e o Rascunho. Espero que ambos sobrevivam.
Leciono em uma faculdade de publicidade. Por esse motivo, volta e meia entro em contato com campanhas. Digo, com as entranhas das campanhas, não apenas com seu resultado final. Material de construção? Campanha de homens, para homens, sobre homens. Daí eu comento que 62,6% de todos os arquitetos e urbanistas em atuação no Brasil são mulheres e a chata sou eu. Ando com um fastio de homem hétero que nem te conto.
Por esses dias vi que descobriram um relevo de parede com 11 mil anos de idade, no sudeste da Turquia. É um homem segurando seu pênis. É do neolítico e está sendo considerado como um dos primeiros exemplos de arte narrativa. Onze mil anos se passaram e homem continua segurando o pinto, física ou metaforicamente, não importa.
Copa do Mundo só piora. Futebol é homoerótico e não tem ninguém que me convença do contrário.
Ah mas nem todo homem. Suspiro.
E olha, digo mais: os únicos que se importam com o pinto são os homens, em um movimento que só tem duas alternativas. Ou é masturbatório, ou é homoerótico.
A Casa dos Vettii, em Pompeia, não me deixa mentir. Da mesmíssima maneira que os terreiros de Umbanda são protegidos por determinadas entidades, a Casa dos Vettii era protegida de Príapo, deus grego da fertilidade, facilmente identificado por seu pinto gigante. Aquela doença priapismo vem daí.
O Masp recentemente restaurou Himeneus travestido assistindo a uma dança em honra a Príapo (1634-38), do Nicolas Poussin. O restauro? Devolver o pinto à obra. A pintura sofreu o que a gente chama de “repinte de pudor”. Provavelmente a censura aconteceu no século 18, quando estava em posse da família real espanhola. Alguém foi lá e cobriu o pinto do Príapo por motivos moralistas/religiosos.
Ou seja, o pinto sendo segurado pelo próprio homem, beleza. O pinto sendo motivo de festa entre moças, censura. A questão não é – nunca foi e nunca será – o falo. A questão é a mulher se divertir.
Ai, que preguiça.