Esqueço o pendrive espetado no computador da minha última turma. No dia seguinte, procuro na secretaria. A quantidade de pendrives aguardando seu dono me diz que eu não sou a única distraída do planeta. Fico mesmo achando que aqueles caras que vendem pendrives no metrô são patrocinados pelo sindicato de professores. Eu, por exemplo, acho que vou comprar uns 30 logo de uma vez.
Sem falar na praga do powerpoint. Ninguém aguenta mais apresentação com a mesma cara. Se eu ainda trabalhasse com design, ia oferecer pacotes de templates para professores. Não pode ter ilustração (grafismo é ok), precisa de vários tipos de páginas diferentes e a gente não dá a mínima para todo o seu esforço em usar uma tipologia diferente. O que a gente gosta mesmo é arial e times. Em um dia festivo somos capazes de chegar a uma cambria mas não fique aí sonhando com garamond. Não vai rolar.
Não sei como não existe um template de gafanhotos no powerpoint. Ou piolhos. Ou rãs. Rãs com piolhos comendo gafanhotos. Cadê a criatividade de vocês, minha gente? ‘Bora criar uma startup de templates que assumem o que o software realmente é nas nossas vidas. Pragas do Egito no Powerpoint, Os doze trabalhos do InDesign. Hórus e o Photoshop. O império do Corel. Moodle Peaks: David Lynch e você.
Aliás, tenho um pendrive com um monte de fonte boa. Pelas minhas contas, a última vez que o vi foi em 2002, ainda no Rio de Janeiro. Acabo de lembrar. Deve ter me abandonado por um dono melhor. São meia-noite e meia, você sabe onde está o seu pendrive?
Acho que devíamos ser mais proativos. Outubro rosa, ok. E novembro cromo? Novembro está logo aí, é tempo de reunir os pendrives em volta do computador e achar aquele documento que te levou à loucura uns anos atrás mas que você nem precisa mais. Junho? Junho é campanha de doação de agasalhos. Proponho que maio seja doação de pendrives. É época de provas e entrega de trabalhos e sempre tem um cachorro maldito para comer o pendrive do aluno. Carnaval? Proteja seu pendrive, use camisinha! Digo, passe antivírus!
O que me lembra, por sinal, o dia em que minha cachorra comeu um trabalho de escola do meu filho. Ele tirou o trabalho todo mordido e babado da boca da Fiona, me mostrou e disse “mãe, ninguém vai acreditar em mim, é melhor simplesmente dizer que eu não fiz”. Ele tinha razão.
PS: O título é por conta daquela piada idiota de que o Acre não existe.
Publicado no portal Vida Breve em 02 de outubro de 2017.