Primeiro dia depois do feriadão e uma amiga me liga mal-intencionada. Passeios ao ar-livre, visitas a museus, coisas assim. Alucinações. Não digo isso por ela ser louca, apesar de trabalhar como se fosse. Digo isso porque moro um grande centro, chove e minha casa está em obras.

Acordo com a minha cachorra lambendo a minha cara. Sonhei que estava mergulhando, de tanta baba. A danada aprendeu a abrir porta. Vou filmar e mandar pro Vídeos Divertidos do Animal Planet, é hilário. Ela não usa a pata como seria o esperado. Ela faz a maçaneta girar para baixo com o queixo e depois dá uma cabeçada na porta para abrir.

Outra casa de material de construção. Programão. Chove, óbvio.

Chove e a internet cai. O servidor tem medo de água. Como pode uma coisa que chega por cabo falhar quando molha? Entendo satélite não funcionar com mau tempo, mas cabo? Aquele tubo de borracha em volta do fio é enfeite?

Sem internet até acho razoável o conceito de um passeio. Uma ida ao shopping (lá tem wifi).

Shopping cheio. Estacionamento nada mais é que toneladas e toneladas de metal em volta de pessoas estúpidas.

Sou da geração que dá passagem. Sim, eu sei, engraçadinho, da geração que ainda chama lâmina de barbear de “gilete” ou academia de “ginástica”.  Ainda hoje xinguei um motorista à minha frente (sim, sou dessas) de “energúmeno” e tenho dificuldade de entender “irado”.  A gíria já caiu em desuso e ainda estou aqui pensando porque diabos alguém com raiva pode ser algo desejável. Se bem que, agora na era Trump/Temer, “irado” começa, finalmente, a fazer sentido.

Cheiro de fritura na praça de alimentação. Combina muito bem com o meu temaki.

Lembro da casa antiga. Já conhecia as paredes e podia ir ao banheiro sem acender a luz mas não aguentava mais as memórias grudadas na argamassa. Começo a achar que o cheiro de cimento não é tão ruim assim.

Por falar em cheiro, meu temaki cheira a batata frita.

Não sou mal-humorada. Não sei do que vocês estão falando.

 

Publicado no portal Vida Breve em 08 de maio de 2017