Tento manter o humor aqui para vocês mas a verdade é que estou exausta. Sei que meu cansaço não é diferente do seu. Pode até ter outra origem, mas está todo mundo muito além do ataque de nervos. Não passa um dia que eu não me sinta a Julieta Serrano em algum filme do Almodóvar.
Durmo pouco e mal, como sempre.
Dorian Lynskey publicou, no The Guardian, o artigo The upside of insomnia: how sleep deprivation aids creativity e me senti representada. Outro artigo, For Franz Kafka, insomnia was a literary method, de Saudamini Deo e Philippe Charlier, publicado no The Lancet Neurology, me deu esperanças. A insônia, pelo menos, eu já tenho. Só me falta o talento.
Não dormir pode causar danos sérios à saúde e eu não recomendo, de forma alguma. Entretanto, é inegável que algumas pessoas conseguem usar esse adormecimento da razão, causado pela falta de sono, de forma criativa.
Trabalhar em casa também ajuda muito. Se tenho uma ideia, se quero experimentar algo, não preciso esperar o horário, pegar condução ou trânsito e sei lá mais o quê, até chegar em casa e exercitar essa ideia.
Criar é um exercício, não se iludam. Dá trabalho e toma tempo. Pensar cansa.
Graças à pandemia, o planeta está finalmente percebendo as vantagens do trabalho remoto. Vivemos uma época em que as pessoas estão descobrindo o óbvio.
Só a Aneel economizou mais de 15 milhões de reais neste ano, até agora, com a adoção do teletrabalho. Os servidores do governo federal economizaram aos cofres públicos aproximadamente R$ 1,5 bilhão com o mesmo trabalho remoto. Idem com o governo do Paraná: R$ 36 milhões de economia. E por aí vai. São Google tem mais dados.
A última do momento é economizar energia. O país desperdiça R$ 71 milhões em energia por dia. Isso equivale a aproximadamente metade de toda a produção de energia elétrica de Itaipu. Os dados são da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco). Nós pagamos essa conta. Esse desperdício é o que a conta de luz chama de “energia reativa excedente” e pode chegar até 30% da fatura. Enquanto quem desperdiça tiver um otário (nós) para pagar a conta, nada fará para mudar isso. Desperdiçamos meia Itaipu mas o problema é o seu banho quente, claro.
À minha volta, pessoas debandam do país como se a salvação estivesse lá fora. Ou param de comer carne, ou andar de carro, ou qualquer coisa, em uma missão para salvar o mundo. Admiro o otimismo de ambos, tanto de quem está tentando se salvar indo para uma terra mágica, quanto quem está tentando salvar a terra mágica abdicando de si.
Não há paraíso. O que não significa, obviamente, que você não deva viver no lugar onde se sinta melhor. Eu entendo o êxodo. O mundo é grande e haverá, com certeza, um cantinho para chamar de seu.
Salvo casos como ditadura militar, guerra, cataclismos ou outras calamidades, sou capaz de me adaptar em qualquer lugar e casa é onde estão as minhas tintas, já que o computador eu levo comigo.
Não tenho nacionalidade. Nem por afirmação, nem por negação. Tudo que tenho são meus afetos.
Como diz a maravilhosa Agrado, em Tudo sobre minha mãe, a única coisa verdadeira que tenho são os sentimentos. E estes estão exaustos e insones.
Crônica publicada no Rascunho em 16/09/2021