Este foi o primeiro texto que eu publiquei na vida. Eu tinha 12 anos de idade e isso, por favor, deve ser levado em consideração. Desde então vivo nesse meio editorial. Às vezes mudando a mídia, o tipo de veículo, a forma de colaboração, mas a vida toda envolvida em algum processo editorial.

É sobre a morte.

Cadernos de psicanálise

Sociedade de Psicologia Clínica

Instituto de Psicanálise

Ano 3

Número 4

Maio de 1984

Cadernos de psicanálise: A morte Cadernos de psicanálise: A morte Cadernos de psicanálise: A morte Cadernos de psicanálise: A morte Cadernos de psicanálise: A morte Cadernos de psicanálise: A morte

 


 

Como chegamos ao ponto em que nosso coração bate mas estamos mortos?
— Carolina Vigna Prado (meu nome de solteira, às vezes eu assinava só Carolina Vigna também)

“Esse texto tem um grande valor: é inteiramente desprovido de qualquer teoria e possui, intuitivamente, uma forma simples e direta de ligar com o tema da morte: pelo humor. É um texto escrito de ouvido, e de vida. Por uma menina de 12 anos de idade.”

Acho que quando as pessoas dizem a expressão “Prefiro a morte” na verdade a temem. A morte para essas pessoas é o corte de seus sofrimentos, e não a queda da vida.

Antes de falar da morte, prefiro falar da vida. Na verdade, o que é a vida, uma vida sem sofrimentos, decepções, nem tristezas e fossas? Essa vida não existe. Pois para alguém ser feliz, precisa antes ser triste, sofrer, ficar na fossa, ter decepções. Porque sem conhecer o buraco em que se cai, não se reconhece quando se sai dele. Bem, assi mjá estou entrando na morte: quando alguém cai nesse buraco sem fundo, e não reconhece quando saiu, está na morte, pois ficará procurando para o resto da vida, ou melhor da morte, uma entrada para uma saída, e esta saída é a entrada. Nesse ponto a pessoa pára de viver. Então morre.


publicado em: Cadernos de Psicanálise, maio de 1984, ano 3 – nº 4
Órgão oficial da Sociedade de Psicologia Clínica do Rio de Janeiro
Instituto de Psicanálise