Trabalho apresentado no 3o Congresso Nacional Mackenzie Letras em Rede: linguagens, educação, sociedade, de 24 a 26 de outubro de 2018.

Grafos como possibilidade narrativa

Essa proposta é parte da minha pesquisa de doutoramento, que questiona a visualidade dos grafos relacionais como uma possibilidade artística e curatorial. O objetivo da pesquisa é repensar tanto as possibilidades curatoriais na contemporaneidade, quanto a minha própria produção artística. Em tempos de desvalorização cultural, faz-se necessário criar alternativas que estejam mais próximas da fruição rizomática, não-linear, do público contemporâneo.

A pesquisa se desenha por camadas metodológicas, triádica (no sentido peirceano de multiplicidade), com um contínuo redesenho metodológico, incluindo a pesquisa documental analítica bibliográfica e a pesquisa metacriativa. A multidimensionalidade da pesquisa, portanto, é metacuratorial.

Para efeitos de clareza, considero toda obra de arte como “texto”, no viés de sua interpretação. Há, primeiramente, a questão da interpretação em si. Nessa questão, o referencial teórico foi Paul Ricoeur. Esse trabalho segue a linha de pensamento do “eixo hermenêutico”, de que qualquer interpretação é uma suspeita e nunca está acabada em si. Portanto, a obra sobrevive. Na construção do pensamento curatorial, poético e artístico, foram visitados Adauto Novaes, Alberto Manguel, André Malraux, Anne Cauquelin, Ernst Gombrich,  Giorgio Agamben, Peter Bürger. A reflexão sobre processos criativos embasou-se em Mihaly Csikszentmihalyi. As questões de linguagem encontraram em Marcos Rizolli, Marshall McLuhan, Michel Foucault e Vilém Flusser, o seu referencial teórico. A parte que tange a tecnologia como forma de pensamento buscou suas referências e embasamentos em Manuel Castells.  Esses autores, mesmo que não citados diretamente no decorrer dessa pesquisa, criaram a cosmovisão que posiciona a pesquisa no tempo e no espaço.

As análises de obras visuais perpassam diversas linhas, tais como iconográfica, sociopolítica, cromática, compositiva, poética, temática etc. Todas essas análises iniciam-se com dados de difícil mensuração quantitativa. A visualização gráfica auxilia a enxergar padrões e extrair sentido de uma grande quantidade de informação, permitindo que o pesquisador dedique-se ao pensamento, à reflexão, ao contexto em que essas informações se inserem e à conexão entre elas. Quando a informação está organizada em grafos, forma-se um cenário claro ao ponto de serem, em determinados casos, também chamados de mapas de informação ou mapas visuais.

Pensar em informação relacional e informação relacionando-se com tecnologia é, obviamente, pensar em grafos. A teoria dos grafos estuda as relações entre os objetos de um determinado conjunto, sendo muito utilizada na matemática aplicada e na ciência da computação. Os grafos resultantes da pesquisa são parte indissociável e fundamental dos dados que os geraram. A partir de análises das obras de Vincent van Gogh, considerando as características de luminância e pigmentos Ciano, Magenta, Amarelo e Preto de cada obra individualmente e catalogando-as de acordo com data e local de realização, os dados utilizados foram gerados.

Entretanto, as escolhas feitas determinam não apenas a sua aparência mas também os itens, características, pontos, elementos, unidades e critérios mostrados. Com isso, há uma escolha – absolutamente consciente, individual e única – para cada elemento de dado e visual. Há, portanto, uma narrativa expressiva, tanto de quem cria os grafos, quanto de quem os frui.