Tenho brincado com a idéia de escrever a respeito da reforma ortográfica mas a verdade é que tenho pouco a dizer.

Assim como qualquer resolução imposta verticalmente, ou seja, uma decisão política/comercial, a reforma também beneficia um grupo específico. Não vou entrar aqui nas teorias de conspiração que se tornam rapidamente populares na internet: eu não sei se a intenção original era beneficiar este grupo ou se isto foi apenas uma conseqüência (sim, eu ainda uso trema), mas o fato é que os grandes grupos editoriais saíram ganhando.

Explico: é claro que em um projeto editorial existe muito mais do que ortografia mas esta unificação já permite, por exemplo, que uma grande editora rode em gráfica um miolo único para todos os países e rode apenas as capas separadamente.

Poucas pessoas – para a minha surpresa – tem a noção de que rodar em gráfica uma quantidade enorme sai mais barato do que uma pequena, considerando o preço unitário. Isso sem nem falar dos custos da produção do texto propriamente dito (copy-desk, revisão, etc).

Considerando este fator, é natural supor que viveremos uma invasão das grandes casas editoriais européias aqui no Brasil. A literatura brasileira, já tão pisoteada, coitada, ficará ainda mais massacrada por projetos enlatados, unificados e pasteurizados.

A solução, me parece, é usar a força do oponente contra ele próprio, ao melhor estilo Aikido: a reforma serve tanto aqui como lá e os autores brasileiros podem lutar por seu lugar ao sol na terra de Camões.