publicado no portal da Revista Webdesign em 25/09/2009

No artigo do mês passado, apresentei as características de um programa open source de diagramação, o Scribus. Neste novo texto, o assunto em destaque são os “PDFs on-line” e vamos dividir sua análise em duas partes: na primeira, vou falar sobre uma aplicação possível sem ser como e-books e afins. E, na segunda, sobre e-books, e-zines, e-editoras e-etc.

PDFs diagramação

Os PDFs podem ser embed (inseridos em um post de blog, por exemplo) assim como os vídeos do YouTube ou as músicas do Blip. Um dos mecanismos mais simpáticos de fazer isso é usando o Scribd, que tem até mesmo a opção do seu PDF ser aberto com as páginas no estilo pageflip.

Um uso meio óbvio é o de organizar um portfólio. Podemos criar “books” como os fotógrafos fazem e publicá-los em um blog sem muita dificuldade, ainda com a vantagem de já estar pronto para impressão se for necessário.

Outra utilização que pode ser interessante é a publicação de documentos que exigem uma determinada formatação rígida, como atas de uma associação ou pareceres jurídicos. Ou ainda, criar uma seção de downloads no seu site com agendas para o ano seguinte, marcadores de página, ou o que mais a sua imaginação criar.

Existem muitos sites que permitem o upload e embed de PDFs, como o Issuu ou o Scribd. Antes de começar a fazer upload para todos, vale passear um pouco pelas publicações disponíveis para ver como cada um lida com os PDFs:

O Scribd, assim como muitos outros, está tentando criar uma comunidade on-line, com presença no Twitter e uma página inicial que lembra muito o Facebook, mostrando as últimas atualizações de pessoas na sua lista.

O Issuu, por sua vez, foca mais em periódicos, tanto que, em sua home, o destaque é para “Featured magazines”. Se o seu plano é uma revista em PDF gratuita on-line, certamente este é um bom lugar para se estar. Existem verdadeiras pérolas por lá. Uma das minhas favoritas é a Illustration.


PDFs e-publicação

Que o futuro é e-book, e-zine, e-qualquer-coisa, ninguém duvida. A grande questão é como ganhar dinheiro com isso. Afinal, o escritor precisa pagar suas contas, o ilustrador precisa comer etc. Algumas soluções começam a aparecer, como a portuguesa Bubok (disponível para o Brasil), mas existe ainda a questão do trabalho editorial.

Antes de tudo, publicações são necessariamente fruto de um trabalho em equipe. O escritor está preocupado (ou deveria, pelo menos) com a qualidade do que escreve. O ilustrador/fotógrafo/etc. se preocupa em dialogar com o texto esteticamente. O diagramador se preocupa em fazer com que estes elementos funcionem juntos. O revisor se preocupa com nossa língua pátria.

E quem se preocupa com o conjunto da obra, com posicionamento de mercado, com marca, com tudo isso? O editor! Ele não é fabricante de papel, mas sim um fabricante de ideais. E essa função não morre nunca. Acredito pessoalmente que os e-etc. ainda não são o padrão justamente porque os autores acham que se podem colocar os seus livros em um blog da vida, não precisam do editor. Estão errados. O resultado é um livro sem unidade, sem posicionamento, sem todo um trabalho de raciocinar o produto final como algo interessante, palatável e vendável. O que acontece, no final das contas, é uma publicação eletrônica perdida no espaço.

Naturalmente, existem exceções de profissionais que são, ao mesmo tempo, autores ou ilustradores e editores, mas não são a maioria e, muito menos, o padrão. A diferença é que agora você não precisa mais de uma sala comercial para fazer isso. Você pode reunir profissionais de sua confiança e criar você mesmo, a um custo muito baixo, uma minieditora funcional. Ainda não sabemos ao certo o caminho a tomar, mas afinal de contas é justamente por causa do leque de possibilidades que você gosta de trabalhar com internet, né?

Segundo o IBGE, 24,5 milhões dos internautas brasileiros não ficam um único dia sem internet. Já estudos da Intel Brasil apontam que 64% dos usuários brasileiros têm o hábito de comprar on-line. É uma fatia de mercado muito significante. E esse povo todo é alfabetizado. Esse povo todo lê.

O Scribd lançou nos Estados Unidos um sisteminha de cobrar pelos PDFs. Por enquanto ainda não está disponível no Brasil. A portuguesa Bubok tem um trabalho bastante interessante, inclusive registrando ISBN* se assim o autor desejar. Ainda percebo alguns problemas práticos nesta solução, além dos conceituais citados acima, como, por exemplo, tamanhos rígidos ou a venda dos livros impressos sob demanda ser necessariamente em euros.

A grande questão, novamente, não é a solução técnica, mas sim a questão editorial. O leitor também sente falta de uma linha editorial definida, um selo sob o qual ele sabe o que encontrar. Por outro lado o “fetiche do papel” realmente está com os dias contados. Alguma solução há de ter. Enquanto o mercado não se define, você pode ir se preparando para não ser pego de surpresa, como aconteceu com a indústria fonográfica.

* Vale lembrar que o registro do ISBN no Brasil é extremamente simples e fácil.