publicado no jornal O Liberal, de Belém, em 4 de maio de 2009

FERNANDA CHOCRON
Da Redação

Para você, qual o perfil de uma pessoa curiosa? O de um cientista, que passa anos em um laboratório estudando possíveis curas para uma doença? Ou o de um detetive, que analisa minuciosamente cada detalhe de um crime, para desvendar a verdade? Ou ainda o de uma pessoa que fica ‘bisbilhotando’ a vida da vizinha, do ex-namorado, ou de quem quer que seja em sites de relacionamento? Independentemente do perfil, a verdade é que a curiosidade está em evidência. A prova disso é a mais recente mania na internet: o Twitter. A novidade é um programa no qual as pessoas revelam, em tempo real o que estão fazendo. O que pode parecer banal para você, reúne, hoje, mais de seis milhões de pessoas. Interessadas em quê? Em apenas saber o que os outros estão fazendo? Ou saber o que personalidades como Madonna, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, ou o apresentador de TV Marcelo Tas, andam fazendo por aí? Isso e bem mais que isso. No Brasil, o programa já virou febre. O país está em quarto lugar no ranking dos pontos que mais acessam ao microblog, perdendo apenas para os Estados Unidos e centros da Europa. Como não podia deixar de ser, o programa também tem dado o que falar entre os artistas paraenses, que não só contam trechos de suas vidas, mas divulgam produções e mantêm contato com seus ‘seguidores’ – termo utilizado para denominar os usuários que têm curiosidade de ler o que outro usuário publica.

A jovem atriz paraense Delianne Lima encontrou no Twitter uma forma de divulgar seus projetos. ‘Tem dado muito certo. A resposta é imediata’, afirma. Apesar de utilizar o microblog há apenas quatro meses, a atriz já deixou de lado outros meios de relacionamento na internet, como o Orkut. ‘O Twitter é como se fosse um desabafo virtual’, classifica.

Ao ser questionada sobre a aproximação entre artista-público que ocorre através do programa, Delianne respondeu como profissional da área e como espectadora do trabalho de outros artistas. Na posição de profissional do teatro, Delianne considera positiva a aproximação, por achar que, dessa forma, é possível conhecer a pessoa fora do palco. Falando como parte do público de artistas consagrados, a jovem atriz afirma que através do site conseguiu acompanhar mais de perto quem ela admira e ainda manter contato e trocar experiências.

ATÉ O ROCK

Para os integrantes da banda paraense Madame Saatan, qualquer artista, independente ou não, precisa estar conectado às novas mídias. ‘É imprescindível que fiquemos por dentro das tendências no mundo virtual. Apareceu o Twitter? Então, lá vamos nós, já que é mais uma forma de interagir com o público e fazer com que mais pessoas fiquem conhecendo seu trabalho’, afirma a vocalista Sammliz Lages, que encontrou no microblog uma nova forma de continuar antenada ao ‘mundão virtual’, após precisar deletar perfis no Orkut.

Segundo a cantora, a vantagem do Twitter está no dinamismo com que ocorre a troca de mensagens. ‘Você pode ‘tuitar’ até pelo celular, informando, para quem está te seguindo, sobre agenda de shows ou qualquer coisa que achar relevante. Eu tenho o meu pessoal e temos o da banda que é utilizado para informações sobre novidades, shows e matérias que saem sobre a gente. A internet é parte do nosso trabalho’, explica. Apesar do potencial de divulgação encontrado no Twitter por diversos grupos musicais, segundo Sammliz, entre as bandas paraenses, a ferramenta ainda é pouco utilizada. ‘Até o momento, não há nenhuma adicionada no meu e nem no da banda’, comenta a cantora, que tem mais de 100 seguidores.

PODER

‘Acredito que o Twitter seja importante para que pessoas estabeleçam diversos tipos de relações, sejam elas profissionais ou pessoais’, afirma Fernando Hage, design paraense e mestrando em Moda, Cultura e Arte, que conhece a ferramenta há mais de um ano, mas a utiliza há apenas um mês. Atualmente morando em São Paulo, o profissional considera o Twitter um meio de estar conectado a formadores de opinião e uma ‘poderosa rede de discussão’. ‘Sou usuário há pouco tempo do Twitter, mas percebo que aqui em São Paulo é dada uma importância maior por parte de empresas e formadores de opinião em utilizar a ferramenta. Por isso é interessante já estar de certa forma próximo desses contatos’, comenta.

 

Carolina Vigna-Marú, designer e ilustradora, que desenvolve trabalhos voltados para a web, também considera o Twitter um espaço de discussão. ‘A ferramenta possibilita uma troca muito grande e rápida de informações. Às vezes vemos até mesmo extensos debates sobre uma determinada técnica ou sobre um determinado artista’, diz. Por isso, para ela, o aspecto mais importante da mais recente mania na internet é o relacionamento. ‘O Twitter humaniza o relacionamento e aproxima quem quer que seja de seu público. Já faz tempo, porém, que ele não é um relato curto do que estamos fazendo. Há muito conteúdo, muita informação prática, real e útil’, destaca. No caso da fotógrafa paraense Lyna Oikawa o microblog atua como veículo de divulgação do trabalho e, sobretudo, de obtenção de referências de outros fotógrafos e profissionais da área. ‘Ao mesmo tempo em que posso receber comentários a respeito do meu trabalho e de como melhorá-lo, pode acontecer de eu criticar ou sugerir algo para o trabalho de uma pessoa que ‘sigo’. É uma forma de ficar por dentro das tendências que são geradas em torno dessa arte’, comenta. Ela também segue twitters de canais de notícias, como o G1.

Tecnologia de blogs e celulares

Criado nos Estados Unidos em 2006, o Twitter alia a tecnologia do blog a de um celular. Cada usuário pode enviar mensagens com ate 140 toques, como as que são enviadas dos celulares. Além de ser divulgada em tempo real no site oficial do programa, como ‘post’ de blog, para todos os seguidores, ela segue via SMS, mensageiro instantâneo, e-mail ou programa especializado.

De acordo com Gustavo Nogueira, publicitário paraense que trabalha com produção de conteúdo para internet e que desenvolve pesquisas relacionadas à Cultura Digital, Mídias Sociais e Internet, quando começou a usar o microblog, em agosto de 2007, eram poucos os usuários do Twitter que o conheciam. ‘Com o tempo, e uma frequência média de ‘tuitadas’, as pessoas começaram a seguir o que eu escrevia, e eu mesmo passei a interagir com as pessoas que eu seguia. Nesse momento, percebi a real função do Twitter e, desde então, estou sempre conectado’, lembra Gustavo.

Para ele, o Twitter tem uma função social. ‘Ele permite que outras pessoas tenham voz e também se tornem disseminadores de informação, já que, apesar de ter como proposta responder a frase ‘o que você está fazendo?’, é o usuário que escolhe que uso fará da ferramenta. Ele tem controle sobre quem quer seguir e de como quer interagir com quem o segue’, explica. Diferentemente do Orkut, no Twitter, você é quem determina o conteúdo que terá acesso. ‘Mesmo que um monte de pessoas esteja seguindo você, você só segue quem você quiser’.