A fotografia documental existe há mais de cem anos e talvez por isso eu tenha saído da exposição de Lucille Kanzawa na Pinacoteca com a sensação de dejá vu que sempre tenho com imagens muito datadas.
Kanzawa conta uma fatia da história da comunidade japonesa Yuba, em Mirandópolis no interior de São Paulo. A história é comovente: ela é filha do médico que atendeu gratuitamente por décadas a comunidade. O cartaz explicativo nos conta que a cultura japonesa considera como irmão aquele do mesmo signo e aquele que está próximo.
As fotografias são corretas, como manda o fotojornalismo, mas esta correção deixa também transparecer uma certa estagnação, inclusive estética.
O Japão me fascina. De um lado, Ukiyo-e (que eu tanto amo), de outro tecnologia de ponta e uma modernidade mais veloz do que sou capaz de dar conta. Amo este sincretismo de tempos tão diferentes. Acredito, honestamente, que nenhuma outra cultura expressa, cria e convive com isso tão bem.
Infelizmente, entretanto, não encontrei esta ambivalência na (ótima) cafeteria da Pinacoteca. Encontrei fotografias que não conseguiram vencer o seu próprio veículo e ficaram presas em ser fotografias stricto sensu.
Agora, vá à Pinacoteca. Veja os Ukiyo-e e aproveite para tomar um café no andar debaixo e ver as fotografias. A exposição da Kanzawa é gratuita e a de Utagawa Hiroshige só custa 4 reais (2, meia). A Pinacoteca é no metrô da Luz e mesmo que você só vá tomar água olhando árvore já é bom.
(parte integrante de um texto maior, escrito a 4 mãos com Elvira Vigna e publicado no Aguarrás)