Estou eu sentada em um sofá com meu filho e mais 2 amigos. Meu pai diz “essa é minha filha”. A pessoa pergunta “quem?”. Amiga, eu sou a única mulher ali. Ok, tudo bem, em tempos trans a pergunta pode até ser desculpável, mas…

No mesmo lugar, peço uma água com gás. A moça pergunta com ou sem.

Poucos dias antes, em uma livraria, na seção de filosofia, onde, veja bem, tem uma placa escrito “filosofia”, um cliente me pergunta se eu sei onde estão os livros de um tal de Kant. Fiquei muda. Não sei como reagir nessas ocasiões.

Eu sou uma pessoa distraída. Sou daquelas capaz de cruzar com a própria mãe na rua e não cumprimentar porque estava prestando atenção no tom de azul que o grafiteiro usou na parede do outro lado da rua. E por capaz de, leia-se já fiz. Era um azul lindo, nem vem.

Isso sem contar aquelas vezes em que a gente escreve uma coisa e o cidadão vai lá e lê outra completamente diferente e passa o resto do dia te acusando de algo que você não pensa, não disse, não fez.

Vi num desses posts bobos de facebook que vivemos em uma época em que você diz “vendo fatias de bolo de laranja com cobertura de chocolate por R$4,00” e a pessoa pergunta qual o sabor do bolo, quanto custa, se tem cobertura, se é fatia ou o bolo inteiro.

É assim que a mídia manipula. É assim que fazem com que a gente tenha a impressão que 4% de aprovação não é a mesma coisa que 96% de rejeição. E por aí vai. Exemplos piores, claro.

Whatsapp, então, é a morte da comunicação. Aquilo é o ninho do desentendimento, o apogeu do inferno, para onde todas as tretas vão quando sobem o rio na época de acasalamento.

Não falo do lapso freudiano, isso é outra coisa. Freud é o anjo maldito que me faz ler “café” onde está escrito “cadê”, por exemplo. E não, eu não sou viciada em café, não sei do que você está falando, calúnia.

Refiro-me a algo como “gostaria de participar dessa pesquisa” ser entendido como “não gosto do professor tal”. Ah, a Academia…

Se expressar corretamente é para poucos. A interpretação de texto é uma arte perdida. Análise do discurso, então, desisti.

O futuro é dos emojis.

Publicado no portal Vida Breve em 05 de junho de 2017.