Viralizou na internet uma foto do primeiro ministro Justin Trudeau (Canadá) cumprimentando com um high five uma menina vestida de mulher maravilha durante a parada gay. Trudeau está usando sensacionais meias de arco-íris, apoiando dois coelhos com um pé só: movimento LGBTTTQSXPTOZYKWÇGHVF (me perdi faz tempo, mas defendo todo mundo) e Eid al-Fitr (o fim do Ramadã, googla aí).

Sim, eu estou careca de saber que essas coisas são pensadas, planejadas, intencionais, políticas, marqueteiras, tudo isso. Não me importo. As meias são fantásticas.

Eu sempre falo que a vida é muito curta para meias sem-graça. A gente já tem tooodo um dress code a seguir. Nos meus tornozelos quero apenas a irreverência, a periferia, o estranho, o bizarro, o fora-da-moda, o risível. Em que ponto chegamos se nem mais das meias podemos rir?

Foi por causa do Trudeau que me dei conta de quase ninguém me dá meias de presente. Ficou um estigma social, eu acho, que dar meias para alguém é tipo o fundo do poço da criatividade. Só que meias de Eid-arco-íris, por exemplo, são o ápice. Meias como essa são aquilo de que os gurus de tecnologia falam quando dizem “pense fora da caixa” e similares. Muito provavelmente, se eu procurar com calma e tempo suficientes, acho alguma palestra do Steve Jobs enaltecendo o uso de meias non sense.

Meias dadaístas. O último estertor da liberdade. O último pilar da expressão pessoal.

Frente à nova (?) moda, tenho algumas sugestões para os fabricantes de meias: Gatinhos voadores neon bordados com calcanhar fofinho. Lagartixas em relevo. Fora Temer. Fora Temer em neon. Fora Temer em neon bordado com arco-íris. E por que parar no arco-íris? Vamos logo de círculo cromático. Meias Pantone. Meias disco de Newton. Meias que brilhem no escuro. Meias com estrelinhas que brilham no escuro. Meias com estrelinhas e Fora Temer que brilhem no escuro, em relevo, com neon. Sim, eu tenho certeza de que já existem essas meias para vender. Prestenção: eu quero essas meias por R$ 9,90 nas Americanas. Quero o pacote de 3 por R$ 25,00 na gôndola. Quero a compra de impulso, junto com balas que eu não deveria comer e pilhas que não preciso.

É desse tipo de popularização de meias ridículas que o mundo precisa.

Abaixo a gourmetização das meias estúpidas!

Pé quente, meia também é gente!

(e aí, posso começar uma carreira como redatora de jingles políticos?)

Publicado no portal Vida Breve em 03 de julho de 2017.