No excelente filme Meia Noite em Paris (2011, Woody Allen), o roteirista de cinema Gil (Owen Wilson) vive um dilema criativo dos mais interessantes: não gosta do que faz porque sua época, ele julga, não tem o glamour dos anos 20. Seus roteiros são um desperdício de talento. Embora o sustente.

Em um arroubo de realismo fantástico típico desse diretor novaiorquino, Gil pega carona em um antigo coupé Peugeot e, claro, vai parar na Paris de sua época preferida, encontrando e confabulando com seus mestres, como casal Fitzgerald, COle Porter, Ernest Hemingway e tantos outros.

A trama se desenrola nos apresentando como síntese a incapacidade do ser humano viver a plenitude de seu tempo quando preso aos males da nostalgia. Esse sentimento acaba por pintar a realidade de cores mais fortes e vívidas do que a plena experimentação do presente (única realidade possível) nos deixa perceber. Para alguns é um meio de vida, para outros prisão ou ainda motivo para festas temáticas de gosto duvidoso.

Ficando ainda no ambiente cinematográfico, em Vanila Sky (Cameron Crowe, 2001), acompanhamos o passeio alegórico de David Aames (Tom Cruise) por suas lembranças e desejos ocultos. Seria sua vida um conjunto de memórias construídas? Como delas se libertar e o que isso tem de bom ou ruim? Mais uma vez, sob certo aspecto, revisitamos o conceito de nostalgia como um estaca no coração do tempo, impedindo-o de passar.

Usei esses dois exemplos cinematográficos como forma de exemplificar esse curioso episódio da meia-hora mais valiosa do seu dia, porque ele é, em si, off-topic. Nos soltamos em discussões além das dicas pontuais, indo fundo no sentimento nostálgico.

Não é uma análise corroborada por especialistas em qualquer atividade humana que não a Comunicação, o Design e as Artes. Só por isso valiosa. E, em função disso, limitada ao nosso fazer. Mas, mesmo assim, um prato cheio para você se questionar se é ou não nostálgico e o que esse comportamento impede sua plenitude como ser humano e profissional.

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