Minha cachorra, Fiona, coitada, é burra feito uma porta. Um amor, carinhosa, a gente a ama, mas é uma anta. Ela entende senta mas esquece. Senta e 30 segundos depois, já está de novo de pé, rebolando a cauda como se estivesse num remake do Ragatanga. Estamos com uma filhotinha felina em casa e, aparentemente, isso causou na coitada uma crise de identidade. Ela não sabe mais se é cão, gato, gente, alga ou sofá. A pequena felina que, não por acaso, ganhou o democrático nome de Eva Perón, manda na casa, nos humanos, e na cachorra e gosta de dormir em cima da cachorra. A gata deve ter mais ou menos um trigésimo o tamanho da cachorra e no entanto, a Fiona fica aguardando pacificamente a Evita terminar de comer a ração (da cachorra), beber a água (da cachorra), brincar com os brinquedinhos (da cachorra), comer o agrado (da cachorra) e dormir na coberta (da cachorra). Como eu ia dizendo, a canina não é exatamente a Vera Rubin. A última mania dela agora é fazer festa como se não me visse desde a Revolução Francesa quando saio do banho. Perigosíssimo esse negócio da humana entrar no banheiro, fechar a porta, se molhar inteira. Dá uma aflição que nem conto. Banho não é uma coisa que se deve fazer assim, todo dia, faz mal para os pelos, ela não sabe disso? Depois precisa ficar passando pomada, dá fungo, maior problema. E levar no dr. Renan? Acha que é fácil? Onde vou arrumar uma caixinha de transporte desse tamanho? Não vai ter jeito, vou ter que amarrar a humana na ponta da guia e levar a pé mesmo. A Evita é que está certa, se lambe e pronto, muito mais prático. E para que fechar a porta do banheiro? Só para me deixar aqui aflita, aposto. Humanos não tem a menor consideração pela nossa preocupação. Ainda sai fedendo, com um cheiro horroroso de lavanda. Oi, não entendeu o meu recado alto e claro quando eu destruí o vasinho de lavandas? Achei que não dava para ser mais clara que isso. Aí, claro, não aguenta esse cheiro horrível e precisa tomar banho de novo no dia seguinte. Minha humana, coitada, é burra feito uma porta. Um amor, carinhosa, eu a amo, mas é uma anta.

Publicado no portal Vida Breve em 28 de agosto de 2017.