Abriu uma birosca de café perto de um dos lugares onde trabalho. Comento, alegríssima, com um colega. Decidimos ir lá. Ainda não tinha nem sentado e escuto uma voz “Oi, Carol, o de sempre?”. O lugar tinha acabado de abrir mas a garçonete já me conhecia do seu emprego anterior. Meu vício em café chegou a um ponto em que eu tenho um “de sempre” em um lugar que acabou de abrir. Supera essa, Pablo Escobar.

Eu tenho uma relação completamente neurótica com a cafeína. Considero chá verde ou branco, por exemplo, uma aberração da natureza. Camomila, então, simplesmente errado. Gosto de cafeína de macho: chimarrão, café, chá preto.

Aí, em um outro episódio, eu de visita, me oferecem café descafeinado. Colega, café descafeinado é como pastel de feira sem fritura. O que mata é justamente aquilo que é bom. Fala sério, você me respeite. Não cheguei até aqui driblando a gastrite sendo amadora.

Semana passada, comecei a trabalhar em um lugar que eu já frequentava antes. Então, fui a guia nativa para outros colegas recém-chegados. Andando pelo campus, eu mostrava “aqui à esquerda é a praça de alimentação, o melhor café é o da primeira loja; mais à frente, depois da pracinha, tem o Centro Histórico, onde tem o melhor café do campus mas agora está fechado, eu já fui lá; no nosso prédio, o café fica no terceiro andar…” Devem ter achado que eu sou louca.

Não sou louca, só tenho péssimo senso de orientação e mapeio o mundo pelos cafés que gosto. Poderia ser qualquer outro parâmetro. Nome de ruas, por exemplo. Ou direita-esquerda. Ou pontos cardeais. Coisa mais sem graça, isso todo mundo faz.

Outra possibilidade seria mapear o mundo pelos vermelhos. “Depois daquela grande placa vermelha, à sua direita, passando o banco vermelho, segue pelas plantas até encontrar a árvore com flores vermelhas, aí é a segunda porta”. Só para torturar os daltônicos, ainda poderia ser algo como “passando o muro fúcsia, siga por onde tem as flores bordô até o anúncio com um escarlate dominante, terceiro prédio depois do banco terracota”.

Existe a possibilidade de que eu encontre uma mínima dificuldade na comunicação, mas seria mais divertido.

Aliás, deixo aqui para os donos do Waze a sugestão da possibilidade de configurarmos outras referências no mapinha. Café, por exemplo. Esse negócio de nome de rua já cansou.

Publicado no portal Vida Breve em 31 de julho de 2017 (editado).