O fabricante do miojo anunciou duas versões doces do carboidrato instantâneo, “chocolate” e “beijinho”. A minha bolha está em polvorosa. Ao que tudo indica, é estranho. Confesso que não tenho planos de experimentar. Nem sob tortura. Mas lembro de quando estive em Tóquio e isso não seria, nem de longe, uma comida esquisita.

Eles têm um doce de batata em bloco chamado Konnyaku que até agora eu não entendi direito que gosto tem.

Existe também um atentado ao bom senso, intitulado Shiokara, que só de lembrar minhas entranhas pedem um sal de frutas. É uma mistura gosmenta de vísceras de animais marinhos. Tem gosto de uma mistura gosmenta de vísceras de animais marinhos, vejam vocês que surpresa.

Sabe aquele biscoito achatadinho que vende por aqui, o Senbei? Delícia, né? A versão “Jibachi” dele vem com insetos dentro. Sim, insetos inteiros e visíveis. Tipo moscas. Moscas grudadas dentro do seu biscoito. De propósito.

Refrigerante de enguia. Sim, você leu certo. Chama-se Kimura Inryou mas eu não tive coragem de provar. De repente é ótimo, sei lá. Escolhi não descobrir.

O que eu acho mais divertido é a quantidade industrial de sabores diferentes de Kit Kat e de Cup Noodles. Aqui em São Paulo, na Liberdade, a gente encontra alguns, como Kit Kat de Wasabi que, para mim, tem gosto de sabão. Faz sucesso com a garotada, entretanto.

Eu vi mas não comi Cup Noodles sabor Pringles e sabor chá verde. Não sou tão corajosa assim.

Isso tudo, obviamente, é cultural.

Em minha defesa, eu também torço o nariz para buchada de bode, mocotó, qualquer coisa ao molho pardo, moela, chouriço e sarapatel. Só de pensar cogito o veganismo como opção de vida.

O mercado de peixes de Tóquio vende até mesmo peixe. Filho, que é uma pessoa destemida, queria experimentar de tudo. Minha única condição foi de que ele se certificasse de que era algo comestível antes de engolir.

Trauma, que chama.

Eu conto.

Eu era adolescente. Estávamos em Chinatown, NY. Minha mãe, responsável genética pelo espírito culinário aventureiro do neto (pula uma geração), aponta para uma bola branca na bancada de uma lojinha. Compra. E morde. A vendedora, em absoluto desespero, avisa: “it’s glue”.

Daí em diante, a regra é esperar para ver se mais alguém come. Ficávamos, então, filho e eu sentados na sarjeta do outro lado da rua, observando. Se mais alguém comesse o objeto-iguaria desejado, estava liberado.

Mais de uma vez seguimos adiante com fome.

Em compensação, voltei com um vício quase incontrolável em ervilha com Wasabi. E, depois de comer o peixe mais saboroso de toda minha vida, precisei passar um ano sem comer sushi até esquecer do gosto, para não decepcionar as minhas mimadas papilas gustativas.

Crônica publicada no Rascunho em 28/04/2022