Comecei a fazer pães em casa. Eu sei, atrasada para o rolê. Durante a pandemia, um monte de gente decidiu virar padeiro. Como existe uma padaria que entrega do lado da minha casa, não senti esse calo apertar com a quarentena. A dificuldade, entretanto, de conseguir um bom pão australiano acabou me levando a fazer justiça com as próprias mãos. Ou seja, a fazer pão em casa.

Acabei de começar, mas já deram certo o australiano, o panetone, o pão francês e o pretzel. Finalmente independência! Agora posso fazer o pretzel com sal grosso, como os deuses nórdicos sempre preconizaram. Essa coisa doce é invenção de brasileiro viciado em açúcar.

Fazer pão não é exatamente uma coisa nova. Existe desde a Mesopotâmia, tem uns 12 mil anos. Na verdade, o pão fermentado é dos egípcios, ali do lado, um pouco depois, mas tudo que eles fizeram foi deixar o pão mais fofinho. Os mesopotâmicos também inventaram a escrita (suméria) e meio que ali por perto, provavelmente, criaram o vinho de uvas. Provavelmente é o mesmo povo que inventou a roda e a agricultura. Vamos combinar que o mais importante disso tudo é pão e vinho. Ficou faltando o queijo, que é dos gregos. Vai, dois em três é bom pra caramba.

Acabou de passar o dia mundial do pão, 16 de outubro. Importância zero. Todo dia é o dia mundial do pão, companheiro.

Meu destino é me tornar aquela velha esquisita que acha razoável dar pão de presente para as pessoas queridas. Em breve minha família começará a me evitar.

Pero Vaz de Caminha narra o momento em que os indígenas brasileiros experimentaram o pão de trigo pela primeira vez. Não fez muito sucesso:

Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel e figos passados. Não quiseram comer quase nada daquilo; e, se alguma coisa provaram, logo a lançaram fora.

Os imperadores romanos e alguns políticos brasileiros acham uma boa ideia a política pão e circo. As fake news, o bolsonarismo e o negacionismo são a arena contemporânea, onde todos nós acabamos devorados pelo leão, comendo o pão que o diabo amassou.

Sou mais a Panis et Circencis, do Caetano e do Gil.

Só não quero virar uma pessoa da sala de jantar.

Crônica publicada no Rascunho em 28/10/2021