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Crônicas publicadas

A estrangeira

Fui caminhando. A pandemia mudou, para mim, o olhar. Me sinto muitas vezes o senhor Meursault, vendo um mundo sem sentido, à distância. Essa foi uma dessas vezes….

Sonhos intranquilos

Tento manter o humor aqui para vocês mas a verdade é que estou exausta. Sei que meu cansaço não é diferente do seu. Pode até ter outra origem,…

Cinquentinha

Na minha juventude, quando os pterodátilos ainda habitavam os céus, meus amigos e eu frequentávamos um bar no Rio de Janeiro que carinhosamente apelidamos de “cinquentinha”. Essa é…

GPSklubben

Leio no jornal que uma expedição de cientistas descobriu uma ilha nova. A ilha destitui Oodaaq, próxima dali, como o lugar mais ao norte do planeta. Tem 60…

Excesso de bagagem

Troco de celular. Junto com uma faxina e organização do aparelho caminha também a limpeza mental. Encontro, nos contatos, números de pessoas mortas (de fato e/ou emocionalmente). Removo…

O apartamento

Logo depois da escada tem uma porta à esquerda. É um apartamento estranho, com poucos ângulos retos e muitos desníveis. Tem uma única janela, de frente para a…

O sorriso no caminho

É muito complicado escrever crônicas no Brasil de 2021. Estamos todos tristes, indignados, ou ambos. Sair desse assunto é um fino limiar entre ignorar o mundo à nossa…

Canais semicirculares rodopiam

Para quem não sabe como é, vou descrever uma crise de labirintite. Você está lá, ótima, plena e bela e de repente o seu ouvido diz “hold my…

Queridx leitorxs

O LinkedIn é uma rede social muito estranha, onde pessoas são sempre gratas a seus empregadores, mesmo no momento em que são demitidas. Publicar print de evento pelo…

Causa mortis

Faço faxina na casa um pouco mais distraída que de hábito, o que é dizer muito. Depois de tudo lavado, esfregado, desinfetado e outros ados, coloco um pouco…

Nem o outro

Nós somos costuras de nós mesmos. Para todos, mas especialmente para alguns machos desconstruídos, o principal pânico é que as camadas de polimento, costuradas à mão e com…

Pois burra

Sábado próximo, dia 10 de julho de 2021, serão 4 anos sem a minha mãe. Completarei, na mesma data, exatos 4 anos de docência no ensino superior. Recebi…

Entre a couve e a cuíca

Recebi minhas férias e fiz o quê? Isso mesmo: comprei um computador novo para trabalhar melhor. O capitalismo levou embora o meu último suspiro de pensamento, liberdade e…

Um padre, um pastor e um rabino

Existe uma enorme quantidade de coisas que simplesmente não nos contaram e que não contamos de geração para geração porque supomos ser algo tão óbvio que não é…

Português de rachar o bico

Ser professor nos faz entrar em contato com umas situações engraçadas. Se você pensa que berimbau é gaita, está muito enganado. Pode ser bem complicado às vezes. Um…

Oi, Netflix

Oi, Netflix, minha linda, tudo bem contigo? Escrevo para dizer que curti muito a ideia do botãozinho “toca alguma coisa”, mas o que a gente precisa mesmo é…

Violão e revolução

O Spotify me oferece uma playlist de violão brasileiro que, desde então, toca na caixinha em modo contínuo. Chegamos à era dos algoritmos íntimos. É preciso conhecer alguém…

Raimundo Samuel gosta de One Piece

Entrego um enorme trabalho que contou com um prazo desumano e vem a ressaca. É um misto de cansaço com vazio. Começo a pensar em mil projetos mirabolantes…

Por um jornal homérico

Foi na virada da Idade do Bronze para a do Ferro que a História começou a ser escrita e contada a partir de fatos e registros. Até então,…

Os sacos plásticos possíveis

Começo um desenho novo, afogada em culpa. Adorno não me sai da cabeça. Estou cometendo uma barbárie? Longe de comparar o Brasil de hoje com Auschwitz, não é…

Final de semestre

Nós, professores, estamos vivendo o final do semestre com mais de um ano de pandemia e oito mil horas de voo em Zoom, Meet e outros aviões precários….

Brasilifica-me, camaleoa

  Ao contrário do que a política educacional mundial vigente acredita, estou convencida de que literatura, comunicação, música etc. não podem ser categorizadas como ciência por serem muito…

Mais do que a própria guerra

Venho sofrendo de ódio retroativo. Cada vez que lembro de algo ocorrido no passado e compreendo os motivos de ter me atingido, a vontade que dá é de…

Domesticidades

Não sou muito inteligente. Eu faço uma resistência infundada e injustificada a novos utensílios domésticos. É uma perda de tempo e um desperdício de esforço, absolutamente autoinfligidos. A…

Dasein, bah!

Do lado de fora, buzinas. Não acompanho mais os motivos. Cansei. Talvez buzinar não resolva muito, considerando que nem 42 tentativas de matar Hitler mudaram algo (ele se…

Pare de anotar, menino

Peguei um freela de criação de conteúdo pra EAD. Três dias escrevendo o conteúdo. Cinco dias cumprindo a burocracia. Deu errado, gente, volta. Devolve pros indígenas, vamos sair…

Um e dois cafés

O café que meu filho fez se mistura com o meu sonho, invade um espaço que é só meu e me acorda pela manhã. A luz natural que…

O sol nascerá

Em uma reunião técnica sobre uma disciplina, um colega professor me chama de “menina”. Não, companheiro. Cara colega, professora, doutora, o que você quiser. Aceito até o meu…

Sociologia da portaria

Vejo no aplicativo que o entregador do hortifruti está perto e desço. Adoro quando tem o mapinha que evita a rotina interfone-toca-atende-estou-indo-pessoa-espera. A quarentena escancarou o que eu…

Sem tréguas

Vou confessar aqui para vocês que às vezes eu procrastino de propósito, como uma metodologia consciente para estimular a produção. Nada me faz trabalhar tão bem e tão…

Mito zero

São 4 horas da manhã e o meu cérebro me faz pegar o celular para verificar se o marco zero de São Paulo, o monumento na Praça da…

Lei das duas respostas

Quando ainda existia aula presencial, lá estava eu falando sobre o Cosimo di Medici, o mecenato e como a Renascença não teria existido sem a família Medici. Eis…

Sra. Magoo

O grau dos meus óculos está mudando. Enxergo melhor o longe mas, infelizmente, a cada dia o que está perto se torna mais inalcançável. Sinais da velhice galopante,…

Sem pisar na avenida

Confesso que tenho em mim (todos os sonhos do mundo e) uma enorme dicotomia entre odiar e amar o carnaval. O ódio está depositado em todos os seus…

El diablo blanco

A polonesa Olga Tokarczuk escreveu, em algum lugar que não lembro onde, “dormi como se estivesse morta”. Ou algo muito parecido com isso. Não anotei, transcrevo de memória….

Despressurização da cabine

A única certeza que tenho é a da insuficiência. Às vezes precisamos usar todas as nossas forças para organizar o presente. Foi o caso, quando tive vontade de…

Fiona Heloísa

Minha cachorra tem 19 anos de idade. É comum, portanto, que as pessoas não me perguntem como ela está, mas apenas se ela ainda está viva. Tive também…

Paz no cruzamento

Com o término das minhas férias “de verdade” descubro-me sem ânimo até para reclamar, uma das coisas que faço de melhor nessa vida. A realidade brasileira está tão…

Minhas mortes

A criança morreu. Foi tudo o que me disseram. Eu devia ter uns 4 ou 5 anos. Meu primeiro contato com a morte foi seco, sem introdução, sem…

Sacode a poeira

  Em Fé no inferno, de Santiago Nazarian, existe uma figura – um conceito – da mesma história contada de maneiras diferentes, materializada também e didaticamente nos livros…

Pela raiz

E eis que 2020 finalmente acabou. Arrancado como depilação a cera quente. A gente fica feliz com o final, mas o processo é doloroso. Tem muita coisa na…

Man up

Um amigo, pai de um recém-nascido, me confidenciou que estava com medo da mulher, mãe de seu filho. Não sou particularmente amiga de sua esposa. Tenho por ela…

Nova translação da Terra

Férias. Meu filho decidiu me alfabetizar em Star Wars. Isso significa, grosso modo, que vimos os seis filmes que, segundo ele, são “o que existe”. Aprendi que devo considerar…

Admirável Natal Novo

Em uma véspera de Natal como essa, Aldous Huxley tomou LSD pela primeira de muitas vezes. O ano era 1955 e, portanto, estamos falando de um ano muito…

Férias amarelas

Essa crônica será publicada no dia 17 de dezembro de 2020, no Rascunho. Quando, pontualmente às 15h, entrarei de férias. Não lembro quando foram as últimas férias-fééérias que tirei….

A vida imensa

Tenho uma camiseta que diz “feminismo: a noção radical de que mulheres são pessoas”. Obviamente essa é uma questão que me é cara, mas não é a única….

Inúteis, uni-vos!

Tenho uma teoria de que nos definimos pelas coisas inúteis que fazemos. Nada desse negócio de profissão, por exemplo. Ou gênero, ou função familiar. Essas, mesmo quando escolhas,…

Bells com pipoca

Minha mãe gostava de ver televisão sem som. Eu entendo e também gosto. O som da televisão é insuportável por não conter silêncios e não permitir criar uma…

Da solidão

Pessoas que me são caras e pessoas muito sozinhas frequentemente são sinônimos. Existe algo na solidão e, principalmente, em pessoas que conseguem viver nela, que me atrai. Ser…

Fazendo as malas

Faço as malas para um final de semana de passeio como quem se prepara para uma internação grave: não considero o retorno como garantido. Posso não voltar por…